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domingo, 2 de novembro de 2014

Casa de taipa

         A necessidade da alma fala mais alto, não tive como me curvar do ofício. Com o reflexo do cenário de outrora oscilando na memória querendo ganhar vida, não relutei, logo comecei a escrever esta crônica. A imagem do panorama das reminiscências principia no lugar Canto da Volta ao entorno da casa de Taipa. Uma espécie de edificação com pau-a-pique, entretecida de varas, cipó, barro, estrume de gado e pedra. A casa referente é coberta com telhas. Portas e janelas feitas de madeira serrada. O modelo das portas é do tipo partidas ao meio (parte de baixo e parte de cima). 
           A paisagem em volta com o passar do tempo foi se modificando. A visão da localidade mudou em todos os aspectos, assim como as pessoas vão se adaptado e acompanhando o desenvolvimento de cada realidade. Esse é o preceito básico do fundamento natural. Para centralizar o quadro da mudança não precisa voltar muito no tempo. Não careces retornar ao lugar antes perambulado, é só observar a vivência na circunscrição. As aldeias simples e ingênuas dantes vão se transformado pelos motores do mecanismo sistemático. Isso foi o que aconteceu com a casa de Taipa. Em geral as paredes rústicas, com a evolução passaram a ser construídas de adobe (cru e/ou assado), seguindo pelo estágio da alvenaria e bem à frente com a utilização de blocos. Dentro de cada época ouve a transformação de todos os tipos de materiais usados para erguer e solidificar os prédios.
         As cadeias evolutivas nutrem os pensamentos com as gravuras do meio envolvente, assim como, as formas de vivência vão sendo alteradas. Não muito distante, na casa de Taipa alusiva, o escuro silencioso e vazio das noites tenebrosas era amparada pela Lamparina a querosene. O liquido que fazia a combustão, era colocado no recipiente e o pavio feito de algodão dava claridade ao ambiente. Com a modernização dos tempos aparece o Lampião a gás, e bem logo veio à amplitude da virilidade luminosa com a Lâmpada movida à energia elétrica. Com o avanço da eletricidade os eletrodomésticos ganharam ênfase no cenário em progresso. O Ferro de engomar dantes movido com a combustão de brasas (carvão acesso colocado dentro do eletrodoméstico para aquecer), com a amplitude da propagação das redes de energia, assim como o ferro de passar roupas, todos os aparelhos elétricos de uso doméstico ganharam praticidade.
            Na casa de Taipa a água barrenta do cacimbão era a que abastecia os potes, consequentemente vem o poço tubular e na recente modernização a água chega de forma encanada, é só abrir as torneiras para se deleitar com o liquido precioso. Para cozinhar os alimentos, usava-se a combustão da lenha, depois veio o carvão, o fogão a gás e mais hodierno o micro-ondas que serve, um tanto quanto, para esquentar os alimentos, como para preparar alguns pratos. Os meios de transportes mais utilizados era o jumento e o cavalo, a bicicleta era um veículo de luxo para as pequenas viagens (a magrela ao passar do tempo serve quase só, para oxigenar o cérebro, as famosas pedaladas), no entanto, logo veio à popularização da motocicleta, um transporte prático, baixo consumo e eficiente, e em seguida os automóveis. O jumento e o cavalo, quase que por completo, alcançaram a carta de alforria. Para chegar à etapa da modernização, o processo segue o círculo natural. O que foi de último préstimo ontem, amanhã já pode está obsoleto. As construções em todos os aspectos da existência trilham a doutrina da lei natural.
           
                         (*) JOSSELMO BATISTA NERES 
E-mail: josselmo@hotmail.com 

Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 02/11/2014 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).

Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica no endereço abaixo:

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Cenas do sertão

            A seca estarrecedora no nordeste brasileiro faz com que os governos ano após ano criem medidas emergências (e eleitoreiras), como é o caso da farra dos carros-pipa, ao invés de compor soluções definitivas com investimentos em infraestrutura nas regiões em estado de calamidade e implantar um sistema de desenvolvimento sustentável para que as pessoas não necessitem tanto de ações assistencialistas, e dessa forma, sanar ou pelo menos amenizar um dentre tantos problemas causados ao sertanejo pela carência de chuva no sertão. Construções de cisternas, açudes e barragens são algumas das ações utilizadas pelos governantes para diminuir o impacto da estiagem, e a pergunta é, e se as chuvas na região não forem suficientes para encher os reservatórios, como o ser vivo sobreviverá? E por falar em chuva, a crise hídrica passa a ser um assunto recorrente nos noticiários nacionais pelos poucos milímetros pluviômetro no sudeste do país, com destaque especial para o Estado de São Paulo, que vive uma das maiores secas da história. A falta de chuva leva a represa do Sistema Cantareira (reservatório que é o principal fornecedor de água a população da capital paulista e regiões metropolitanas), aos menores índices em termos percentuais da reserva já vistos. A crise ocasionada aos cidadãos pelo agravamento da escassez de água chama a atenção dos gestores para o problema. A maior cidade do Brasil está “à beira do colapso”.
O governo nega que, possa vim acontecer um apagão no abastecimento de água na grande São Paulo e regiões que dependem do Cantareira. Contradizendo o chefe, o presidente da Agência Nacional de Água, diz que, a crise hídrica está à beira de um caos. O que impressiona nos informes relacionado à matéria, são as cenas do sertão em plena terra da garoa, que mais parece à paisagem do torrão nordestino. O Sistema Cantareira a cada dia registra quedas consecutivas e bate um recorde histórico de índice negativo nas águas do reservatório. As autoridades estão utilizando bombas flutuantes para captar a água que fica abaixo do nível das comportas, o que chamam de “volume morto”, ou reserva técnica, para transportar aos centros de tratamentos e logo após o consumidor. Uma coisa é certa, se não chover os milímetros no período esperado, o Cantareira entrará em recessão.
Assistindo o panorama das imagens do solo esturricado e rachado na represa em São Paulo, onde ver um cenário de extrema sequidão em toda a volta, bateu na reminiscência psicológica o leito da lagoa de minha infância. Até que a balbúrdia pelo baixo nível da lagoa do Fidalgo poderia estar no mesmo patamar, mais ainda bem que os fidalguenses não necessitam da reserva, assim como, um tanto quanto, os paulistanos necessitam do Sistema Cantareira. No imaginário passa um filme dos tempos invernoso com a lagoa extravasando de tão cheia, ao tempo que, na dura realidade da pestilência, a estiagem corrói a lembrança frutífera.  
Mera comparação do sertão do nordeste com o sertão do sudeste, províncias de um mesmo Brasil diferenciadas por características climáticas e problemas sociais. Comparações opostas. Devida estar localizada em área que ocorre poucas chuvas durante todo o ano, há década o efeito do estio castiga algumas regiões do nordeste, e como já é de praxe, os noticiários já não dão tanta importância ao tema. Setores administrativos diferentes, entretanto, a falta de planejamento e investimento na (re)estruturação dos estados de criticidades, de forma igual, sofrem pela falta de medidas centralizadoras. A salvação é esperar São Pedro abrir as torneiras.

 (*) JOSSELMO BATISTA NERES 
 E-mail: josselmo@hotmail.com

Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 27/10/2014 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).
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domingo, 19 de outubro de 2014

Mandacaru

            Mandacaru quando fulora na seca / É o sinal que a chuva chega no sertão... A letra da música “Xote das Meninas”, composta por Luiz Gonzaga e Zé Dantas, e espalhada à melodia na voz do rei do baião, nela o mandacaru foi cantado, encantado e eternizado. Resistente às condições climáticas do semiárido, a árvore como é considerada pelos botânicos por causa do caule lenhoso é o símbolo de relutância da seca, devido a grande capacidade de captação e retenção de água nas hastes carnudas e suculentas. Com o nome científico cereus jamacaru, o mandacaru como é conhecido popularmente, é uma planta da família das cactáceas e pode alcança em média cinco metros de altura a qual possui um formato que lembrar um candelabro. Em períodos de escassez de chuvas, com secas prolongadas, o agricultor de poucos recursos recorre ao arbusto cactáceo nos períodos críticos para alimentar os animais, principalmente o gado bovino.
A árvore também serve para a restauração de solos degradados, ornamentação, escultura viva, propriedades medicinais, princípios ativos e fazer cerca natural por ser uma espécie de vegetal espinhoso, entre outros. Comum no nordeste brasileiro, o mandacaru tem a flor branca, perfume suave e abri as pétalas só depois que o sol se põe e fecha devagar logo ao amanhecer para não mais se abrir, ou seja, cada flor só dura um período noturno. O fruto é comestível. Tem a cor violeta forte, a polpa é branca e com várias sementes minúsculas pretas. Ao meu paladar o fruto tem um sabor insípido (confesso que não é das minhas preferidas), já outras pessoas dizem ser saboroso. Diversas aves da caatinga tão logo ver o fruto maduro, começar a bicar a casca para se alimentar da parte carnuda.
Quando morava no município de São José do Peixe, no lugar Canto da Volta, hoje São Miguel do Fidalgo, o que mais eu gostava da árvore era usar o caule seco como balsa. Não entendeu? Deixa-me explicar. O mandacaru seco por ser bem leve não afunda e na minha meninice junto com outros guris disputávamos uma tora do cereus jamacaru para usar nas brincadeiras quando dos banhos nas águas da lagoa do Fidalgo, e por muitos servia como instrumento de travessia de um lado para o outro do lago, funcionando como se fosse um barco.
O arbusto é muito apreciado pela fauna, principalmente como alimento alternativo para sustentar os rebanhos bovinos lá pelo “fim da seca”, quando a fome está braba e nas roças não se encontra mais pastagem. Por causa da grande quantidade de espinhos espalhados por toda a superfície é preciso queimar o cacto para por fim os ferrões e só depois de sapecado é que corta em pequenos pedaços e coloca na cocheira para os animais saborear a ração. Entretanto, a utilização constante da planta nos sucessivos anos de seca, sem a reposição, pode levar o árvore à extinção e distanciar o criador da cultura. No entanto, o mandacaru, continua como uma referência para o povo em época de estiagem, por sua durabilidade, adaptabilidade e beleza. Continua como símbolo de austeridade e como identidade do cidadão que vive no torrão.

(*) JOSSELMO BATISTA NERES
E-mail: josselmo@hotmail.com

Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 19/10/2014 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).
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domingo, 12 de outubro de 2014

Voando no asfalto


            Era sexta-feira, às 16h20min sai de Picos e segui rumo a São Miguel do Fidalgo. Fui para os festejos do padroeiro da cidade. Passei pelas cidades de Oeiras e Colônia do Piauí até chegar ao destino. A duração da viagem foi em média duas horas. À noitinha aterrissei no fidalgo. Permaneci por lá até o domingo. Às 08h00min levantei voo em direção a Simplício Mendes onde fui cumprir o convite para um almoço em louvor ao batizado de dois guris. No trajeto passei por Paes Landim. Às 08h55min estacionei o carro ao lado a Igreja matriz. Cheguei bem na hora. Fui direito para a Igreja assistir a missa e logo depois prestigiar a cerimônia religiosa dos meninos. Terminando o ritual da bênção do Padre, já era quase meio-dia, voei para a propriedade do pai dos moleques, a uns 10 km da sede do município, onde iriam acontecer os comes e bebes. O dia estava com um sol escaldante. Fiquei por lá até às 15h30min do domingo. Hora que peguei a estrada de volta a Cidade Modelo. Não pense besteira, caro leitor, bebida alcoólica não fazia parte do cardápio da festa. A mesa estava farta, churrasco rolava solto, já bebidas só água e refrigerante.   
            Admirador da vida campestre, não perdi tempo quando o fazendeiro chamou algumas pessoas, as quais estavam em uma roda de conversa (eu estava lá) para ir até o cercado. Todos já estavam saciados. O proprietário nos levou até o curral para nos mostrar algumas crias ali presas e por pouco não presenciamos o parto de uma ovelha. Quando chegamos ao redil onde se encontravam encarceradas, uma tinha acabado de parir três borregos. Os filhotes estavam no meio do sol, por sorte tinha acontecido à dádiva há alguns instantes, logo o dono as pressas correu para socorrer os filhotes. Pegou os recém-nascidos e os colocou na sombra bem ao canto do aprisco. Eram três, mas um estava morto. “Este já nasceu morte”, retrucou o criador.
            Chega a hora da despedida. Para retornar a Capital do Centro Sul eu só conhecia a rodovia que volta por Colônia do Piauí, passando por Oeiras. Pedi algumas informações sobre os atalhos e a distância dos trechos que liga Isaías Coelho, Vera Medes, Itainópolis até chegar a Picos. Jamais tinha andado por estas rodovias estaduais e se quer sabia a saída do centro urbano de Simplício Mendes para o inicio da via asfáltica que liga aos municípios. Fui orientado da seguinte forma: “Você pegar esse trecho da 020 (BR 020) quando chegar lá no posto (posto de combustíveis), ao invés de pegar a rua que sai na igreja que vai para Oeiras, você segui direto, ai é só segui, não tem outro asfalto, só lá nos morro tem o asfalto que vai para Campinas (Campinas do Piauí) e chegando no Samambaia já perto de Picos segue a esquerda, a BR a direita vai para Jaicós, Paulistana”. Pronto, o mapa do itinerário já estava fixado na cachola. Outra pessoa que estava ouvido àqueles ensinamentos retrucou: “Eu prefiro andar por Oeiras, o tempo que gasta indo por Isaías Coelho é o mesmo indo por Oeiras, pois por Isaías Coelho tem muita curva e de Itainópolis pra lá tem uns buraquinhos, mas diminui uns 60 km”.  
Com um ar de aventureiro e querendo conhecer o desconhecido, resolvi encarar a rota nunca dantes percorrida. Não me arrependi. Apreciei as paisagens que da vida aquele sertão e ao mesmo tempo desbravei o caminho que nunca tinha trilhado. A viagem foi tranquila. Às 17h30min pousei na Capital do Mel. Passado uma semana da peregrinação, sentado na escrivaninha, os pensamentos ficaram pertinentes aos vocábulos: ‘pra onde fui e por onde voltei’. Logo comecei a escrever esta crônica que você acabara de ler. Se é que não começaste pelo fim.

 (*) JOSSELMO BATISTA NERES
E-mail: josselmo@hotmail.com



Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 12/10/2014 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).
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terça-feira, 7 de outubro de 2014

Engrenagem da existência


Descrever os sentimentos não é uma tarefa fácil. Falo por mim. Cada um tem a maneira de encarar o “mergulho” da existência. Leitor imagine falar do amor preso nos recantos do coração, que só quem sente é que sabe a verdadeira sensação que se passa na engrenagem do peito. Não está à vista, mas tratar-se de uma emoção intrínseca envolvente; saudades sem limites; articulações subjetivas; pensamentos em interação com a realidade... Essência da própria alma. Podemos até tentar, todavia, nada explica as dimensões emocionais que afetam a existência do ser humano. Isso é um fato. Quando a pessoa começa a se relacionar com o social, sempre estará exporto aos conflitos da realidade logo no primeiro contato com o mundo.
            O coração carrega a iminência da essência, ou seja, constitui a própria natureza da realidade. “Não importa a distância que nos separa, mas sim o amor que nos une”. Essa frase serve de consolo para afagar os redemoinhos de lembranças encarcerados na mente, é uma maneira do viver, uma busca da existência feliz, uma forma de encarar a real circunstância. Cai como uma “luva” para suportar a saudade dos corações amanteigados. Dentro do circulo interpretativo dos sentimentos e as perspectivas do ser nas estruturas que dão sustentação ao processo com o mundo interior, chega-se a uma conclusão do tamanho da complexidade sensitivo das pessoas (é claro que nem todos pensam e agem da mesma forma e nem devia, os momentos são íntimos). Mas uma coisa é certa, viver é muito simples. Ser feliz é mais simples ainda. Viver e ser feliz são inexplicáveis. É a própria vida. O conceito de emoção é universal, no entanto, as expansões culturais das experiências é o diferencial das variações que reage nas pessoas às questões impostas pela a ambientação do instante.
            O tema em questão é assunto recorrente entre alguns especialistas que buscam entender “à luz da consciência dos sentimentos obscuros e recalcados” do ser humano. É impossível entender os afetos enigmáticos das matrizes psíquicas. “as emoções são expressões afetivas acompanhadas de reações intensas...” Com os pensamentos focados em estimo apreço e com toda a sentimentalidade envolvente da pessoa amada, tudo faz lembrar o caminho percorrido do até então. As reações comportamentais, a maneira expressiva, os movimentos exploratórios, a respiração ofegante, a aceleração cardíaca... Todas as manifestações presentes na vida remetem as lembranças da pessoa por quem o coração pulsa. Quando a ação é intensa e verdadeira a efervescência constitui o alimento da alma, seja qual forem às flutuações das reações enérgicas, o conflito dos sentimentos estará sempre vivo.     
            A emoção é automática e inconsciente. Variam na intensidade de pessoa para pessoa e pode ser negativa ou positiva. Todas as formas são usadas para sanar as sensibilidades aprisionadas ao peito quando no instante vazio. Seja olhar as fotografias dos momentos felizes, refazer o percurso do caminho o qual andaram juntos... Tudo vale para avivar os pensamentos na figura da pessoa por quem o fogo queima.
        
(*) JOSSELMO BATISTA NERES
E-mail: josselmo@hotmail.com
 

Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 04/10/2014 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).
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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O valor do dinheiro

Para que serve o imposto que pagamos? Eu não tinha parado para observar com maiores detalhes o cupom fiscal das compras no supermercado. Essa semana quando cheguei em casa bateu-me a curiosidade de ver a forma da descrição das mercadorias no comprovante fiscal. E olha que a compra foi minúscula. Eu já tinha visto que cada produto discriminado informa o percentual de imposto pago por cada produto, uns são 12% (doze por cento), outros 17% (dezessete por cento), outros 25% (vinte e cinco por cento) e por ai vai, o que eu ainda não tinha notado era a informação com a descrição no finalzinho da nota fiscal: “valor aproximado dos tributos”. Fiz uma compra com nove produtos os quais uns era taxado em 12% e outros em 17%. Paguei pelo valor da compra R$ 46,27 (quarenta e seis reais e vinte e sete centavos). O valor aproximando dos tributos constando no cupom das compras foi de R$ 17,37 (dezessete reais e trinta e sete centavos), o que quer dizer que 37,54% foi o percentual de imposto repassado ao governo. Agora só mim resta aguardar o seu retorno na forma de benfeitorias.
Como fiscalizar a aplicação dos impostos arrecadados? O trabalhador brasileiro trabalha 151 dias só para pagar imposto, cinco meses por ano, que corresponde que, em média 41,4% dos seus vencimentos brutos vão para o governo. Nessa percentagem esta inclusa todos os tributos cobrados pelas autoridades governamentais. Os índices são com base em 2014, no entanto, pode variar de um ano para o outro, que pela base histórica a cada ciclo a carga tributária só faz é aumentar nas “costas” do brasileiro. O Brasil é um dos países que paga mais imposto no mundo e a diferença entre os países com índices maiores é que, eles oferecem serviços públicos dignos e eficientes à população. Os governos arrecadam impostos dos cidadãos desde os primórdios da civilização, que por sua vez, a cobrança sempre foi reclamada. O “imposto”, como o próprio nome já diz, é algo que somos obrigados pelo governo a aceitar e pagar. Não há escapatória.
Para onde vai o imposto que pagamos? O pagamento de tributos é legitimo e necessário para manter o funcionamento da estrutura governamental, como educação, saúde, segurança, estradas, entre outros serviços com qualidade. Agora a forma como a carga tributária é imposta é um desrespeito ao trabalhador, que precisa ser reavaliada, assim como, o rigor do retorno das cifras com serviços públicos eficientes. A reforma tributária precisa sair do papel, entretanto, entra ano sai ano, e não sai da gaveta a tão sonhada reestruturação. Uma vez por outra o governo lança algumas medidas pontuais com redução de alguns impostos, mas na reorganização nada tem feito para diminuir os vultosos tributos que tanto massacra o cidadão.
Qual a garantia que o imposto vai retornar em forma de benfeitorias? No discurso, os valores dos tributos são para ser revestido em benefícios comuns a todos. Não é o que funciona na prática. As camadas mais baixas são as mais penalizadas com a forma da cobrança de imposto, já que, o percentual de consumir do valor do labor do mês é maior (pra não dizer todo o valor disponível), já às classes mais ricas o percentual de consumo da renda é menor, já que, como essa camada tem um pro labore maior, consequentemente tem uma predisposição a mais para poupar. Vendo pelo ângulo das comparações, o pobre não tem vez e o rico tende a aumenta cada vez mais a concentração de renda. Enquanto não houver uma reforma tributária efetiva, o Brasil vai ser um país de poucos. Deu pra entender? Também não.

(*) JOSSELMO BATISTA NERES
E-mail: josselmo@hotmail.com

Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 27/09/2014 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).
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sábado, 20 de setembro de 2014

O patriarca do clã

             Cansado da labuta nas terras da localidade Cercado, município de Picos, hoje Sussuapara, as quais o solo estava enfraquecido para a lavoura, Luiz Leal de Moura Santos, o Luiz Cândido, em julho de 1960 viajou para o Vale do Fidalgo para comprar uma propriedade no lugar Canto da Volta, município de São José do Peixe, hoje São Miguel do Fidalgo. Negócio fechado e data estipulada para a mudança. Minha avó Joaquina retrucou, não queria sair de perto dos familiares e amigos para ir se aventurar ao desconhecido, convencida pelo patriarca da família, em setembro do mês ano colocaram os “cacos” em um pau de arara e seguiram rompendo o horizonte escrevendo um novo capítulo da história. Todos os oito filhos do casal já eram nascidos, a mais velha com quatorze anos e a mais nova com oito meses de idade.
            Era um dia de domingo, meus avós maternos e os oito filhos abandonaram o conforto da casa no Cercado para desbravar uma terra distante onde não existia nenhum parente nem aderente. Na minha visita imaginária ao passado vejo que, quando os novos moradores chegaram à localidade, olharam o cenário em volta e sentiram-se uma imensa saudade, as lembranças da vida que ficara para trás veio à tona. Os corações pulsaram acelerados. Recuperados do impacto. O olhar do meu avô era de felicidade. O semblante da minha avó estava entre uma alegria eufórica e o medo de enfrentar os desafios da nova vida. A mudança causa estranheza a todos nós, principalmente quando temos uma rotina definida e seguimos outra trilha a qual não estamos acostumados.
             Com um amor imensurável ao trato da terra, Luiz Cândido cultivava “diumtudo”. No Cercado, tinha um quintal com plantio de coco, banana, manga... Quando decidiu fazer a mudança para o lugar Canto da Volta, vendeu a sua terra e casas que possui na cidade de Picos e seguiu o caminho construindo a nova história. Chegando ao seu destino não viu uma árvore frutífera na redondeza, perguntou a um morador da vizinhança por que na região não se plantava pés de coco, maga, banana, laranjas, tangerinas, goiabas... Teve como resposta: “é por que aqui nas terras não dá”. Mandou cavar um poço tubular na propriedade e por sorte acertou bem na veia do lençol freático. Ficou jorrando diuturno e para aproveitar a água que derramava, semeou uma variedade de frutos e todos vingaram com qualidade, ai estava o porquê das terras não produzir as frutas, ninguém plantava.
            Meu avô era alto, magro, austero. Também tinha o momento espirituoso. Fazia brincadeiras e contava causos da época da sua juventude na região de Picos. Eu ficava admirando com as conversas. Em uma das falas disse que – não fumou e não era de tomar bebida alcoólica, mas uma vez por outra nas festas tomava uma talagada de vinho. As moças se derretiam aos seus encantos. Não perdia um forró pé de serra nas imediações. Era um verdadeiro pé de valsa. Mesmo depois que matrimoniou não deixou de frequentar os forrós, até que um dia uma “figura” o abandonou no meio do salão ao observar a aliança no dedo. Certamente a moça com segundas intenções notou que ele era casado. Por capricho disse que daquele dia em diante não dançou mais nenhuma festa. Fiel às raízes, quando passou a morar no Fidalgo, todos os anos voltava a Picos para visitar os amigos e familiares.

            (*) JOSSELMO BATISTA NERES
E-mail: josselmo@hotmail.com
 

 Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 20/09/2014 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).
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sábado, 6 de setembro de 2014

As cores do sertão

 A paisagem do sertão na maior parte do ano carrega as cores dramáticas da aridez. Em uma vasta parte das regiões brasileira na época da estiagem, as árvores são cinzentas, retorcida e com poucas folhas nos galhos. Alguns autores de diversas épocas se atreveram a narrar por diversos gêneros literários à tragédia da seca no Brasil, e o fizeram muito bem. Não que o tema alusivo servisse de inspiração para o criador pegar a pena e começar a desenhar os seus escritos, mas a sede de retratar o incômodo inerente, mesmo que a manifestação da real situação do torrão fosse ao molde da estrutura de obra de ficção. O material literário mesmo tendo títulos bastante antigos, o tema é atual, e a intenção dos ensaístas era, e ainda é, chamar a atenção do governo que faz vistas grossas à problemática pertinente, e nas entrelinhas, proclamar a elaboração de um plano de ação que deve ser feito ao longo prazo para amenizar os efeitos devastadores da falta prolongada da chuva e impor alternativas para atenuar os efeitos catástrofes.
As obras literárias “Ataliba, O vaqueiro”, do piauiense Francisco Gil Castelo Branco, tida pelos críticos literários como o primeiro autor a levantar a bandeira ao expor a problemática da seca no nordeste brasileiro; “A Bagaceira”, de José Américo de Almeida; “Luzia Homem”, de Domingos Oliveira; “Aves de Arribação”, de Antonio Sales; “O Quinze”, de Rachel de Queiroz; “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos; “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa; “Os Sertões”, de Euclides da Cunha; “Sertão”, de Coelho Neto, dentre outros, descrevem enfaticamente as cores dramáticas do interior do país, assim como, as questões sociais significativas e as calamidades que assola as regiões de extrema sequidão, tão presente no cenário de convívio do sertanejo.
A temática da seca nos romances literárias, não é usada apenas como pano de fundo para encenar as histórias, mas para recontar as reais situações da vida do camponês, e mesmo os relatos estejam nas páginas de obras de ficção, existe uma preocupação dos escritores de reproduzir a imagem da sociedade com as cores peculiar da região concernente. As passagens da ambientação, os relatados da falta de chuva, da aridez do solo, a fome, as mortes, o abandono da terra pelo proprietário pela falta de perspectiva, o sofrimentos dos imigrantes, todas essas questões é um tema bem real para muitas pessoas que vivem no sertão, pois interferi literalmente no ciclo de suas vidas. O leitor pode até imaginar que o cenário das regiões brasileiras realçado pelos efeitos do verão é representado por seca e miséria. Não que também não seja, mas existe o outro lado da moeda, no entanto, em um dos lados ano após ano o estio vem castigando o sertão.
A seca em algumas regiões contada nos títulos de inúmeros impressos, além de nos possibilitar conhecer uma parte da historiografia do nosso povo, são documentos riquíssimos em detalhes. A consequência da estiagem é triste, mas as obras mostram o alto valor da literatura, a mistura de ideais dos personagens... E no jogo poético dos termos, buscam sensibilizar as autoridades no que tange a elaboração de projetos eficazes em combate à seca. Essa é a forma de vida do sertanejo fotografada nas próprias cores.

            (*) JOSSELMO BATISTA NERES
E-mail: josselmo@hotmail.com


 Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 05/09/2014 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).

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O progresso bate à porta


            A vida bucólica de antes no campo só existe na memória. A vivência no interior desde pequeno, cercado pelo esplendor da vegetação e o modo original do homem da roça, fez-me lembrar a vida simples e arrojada com toda a opulência da significância dos tempos de outrora. No reduto da liberdade o sertanejo vive diuturno com os afazeres da labuta diária. Quando a noite chega à lamparina esta posta abastecida com o querosene e no ponto de acender o pavio para alumiar a casa noite adentro, até que todos se recolhem aos seus “ninhos” e durma tranquilamente. Uma vez por outra à lamparina fica acessa até o moleque que tem medo do escuro dormir. A noite segue silenciosa. Na madrugada o galo canta avisando que o dia vem raiando. O gado mungi no curral. As ovelhas berram no chiqueiro... Os pássaros cantarolam. Todos em alegria resplandecente pelo novo dia.
            A vida no campo pode ser difícil para alguns, no entanto, esta aliada ao ponto de vista e a maneira como vive o ser humano no torrão. Um tanto quanto, pode-se comparar a uns outros cidadãos que moram na cidade. Na zona rural cria-se a galinha, o porco, a ovelha, o bode, o boi... O plantio é suficiente para o sustento, e uma vez por outra sobra uma saca de grãos para vender, o que certamente é trocado na bodega pelo o que não é produzido na roça. A lenha que serve como combustão para cozinha os alimentos busca-se na chapada. Água para encher os potes da casa que vai servir para beber, cozinhar os alimentos, lavar a louça... Busca-se no poço em latas ou em cabaças trazidos nos ombros (na cabeça), ou no lombo de jumento. As brincadeiras das crianças interioranas é montar em talo de carnaúba e sair a galope dizendo que é um cavalo; fazer um cercado com uns tornos enfiados ao chão e coloca chifres de boi dentro e dizer que é gado (os chifres de boi menor era os bezerros); pega um pedaço de tábua, lada de óleo vazia, prego e chinelo no munturo e fabrica um automóvel... Esse é o retrato da vida simples e feliz no ambiente aos moldes originais.
            No interior tudo o que precisa (ou quase tudo) para a sobrevivência está em volta. A natureza permite ao camponês criar, plantar, cuidar e preserva o ambiente em que vive para em troca dar-lhes o meio da sobrevivência. Passado o tempo o progresso ronda os terreiros e o homem inconformado com a carência do poder público, entre outras a falta de estruturas para dar uma boa educação e certamente um futuro melhor para os filhos, resolve procurar a modernidade dos centros urbanos. O processo migratório ocorre naturalmente do campo para a cidade sem que esta tivesse estrutura para abrigar tamanho êxodo. O resultado é o aglomerado de casebre nas periferias das cidades, raras exceções.
            Os roncos dos motores e a agitação frenética da zona urbana trouxe a tona o choque de realidade. As zonas rurais perderam a identidade para dar lugar o advento do progresso. A lamparina deu lugar à energia elétrica com todas as parafernálias da tecnologia. A água que era colocada em potes na bilheira, agora esta em geladeira. A água carregada a distância para abastecer a residência, agora é só abrir a torneira... Os céticos e irredutíveis com as mudanças tiveram que se adaptar com a nova realidade. Saudades do meu interior.
       
            (*) JOSSELMO BATISTA NERES
E-mail: josselmo@hotmail.com


Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 25/08/2014 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).
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