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quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

A arte existe porque a vida não basta

              Não tem como colocar em uma balança o nível de intelectualidade que um artista tem sobre o outro. Ou tem? Analisado tal demanda sob a ótica das publicações, pinturas, engajamentos... Sem dúvida alguma, o expoente da literatura brasileira o qual este escrito reverência, foi, é e, sempre será um grande gênio. Um mestre da cultura que atuou em diversas áreas da arte contemporânea, um artista de mão cheia. Inquestionável. Escreveu: poemas, crônicas, contos, biografia, memórias, antologias, ensaios, literatura infantil, peças de teatro, filmes, novelas (como colaborador, para a Rede Globo), traduziu diversas obras, crítico de arte e, dentro dos muitos feitos, pintou telas a óleo e foi um dos fundadores do neoconcretismo.
          Artista com um currículo igual ao supramencionado, não é impossível, mas dificilmente encontramos com tamanha originalidade, desenvoltura e perfeição nos registros da história. O leitor se não começou a ler esta narrativa pela ordem natural, deve está se perguntando: quem é mesmo esse baluarte da literatura nacional que o texto faz referência? 
            Pois bem. Nascido José Ribamar Ferreira (São Luís, 10 de setembro de 1930 – Rio de Janeiro, 04 de dezembro de 2016), filho de Newton Ferreira e Alzira Ribeiro Goulart e, um dos onze filhos do casal. Postulante da cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras, na vaga deixada por Ivan Junqueira, da qual tomou posse em 05 de dezembro de 2014. Conhecido popularmente com o pseudônimo, de Ferreira Gullar, o poeta declarou o seguinte: "Gullar é um dos sobrenomes de minha mãe, o nome dela é Alzira Ribeiro Goulart, e Ferreira é o sobrenome da família, eu então me chamo José Ribamar Ferreira; mas como todo mundo no Maranhão é Ribamar, eu decidi mudar meu nome e fiz isso, usei o Ferreira que é do meu pai e o Gullar que é de minha mãe, só que eu mudei a grafia porque o Gullar de minha mãe é o Goulart francês; é um nome inventado, como a vida é inventada eu inventei o meu nome".
             Em meio à produção literária, Ferreira Gullar também era colunista da Folha de S. Paulo, na seção cultura e, escrevia aos domingos. A última crônica do autor foi impresso na edição do jornal de 11 de dezembro de 2016, com o seguinte título: “Não custa nada imaginar que uma nova arte está para nascer”. A exposição dos acontecimentos retrata os rumores das manifestações artísticas que marcaram época no transcurso dos tempos. O escritor em argumento linear aborda a particularidade das pinturas em muros, pinturas de tela a óleo e a fotografia. A última frase que encerra o apaixonante texto do literato diz: “não custa nada imaginar que, em função das novas tecnologias, uma nova arte esteja para nascer.” A nota estampada pelo jornal no final das palavras ali fixadas, afirma que esta última publicação foi ditada para a neta Celeste na cama do hospital. “Com pouco fôlego, teve de fazer pausas para descansar. Quando eu perguntei se preferia terminar outro dia, ele disse que não, porque não sabia o que poderia acontecer", afirmou Celeste.
             Ferreira Gullar, autor da frase “a arte existe porque a vida não basta”, partiu para o plano superior, mas deixou um grande legado que deve ser apreciado e estudado por todos os amantes da literatura. 

                                                                                   Josselmo Batista Neres
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Crônica publicada no JORNAL DIÁRIO DO POVO DO PIAUÍ em 22/12/2016 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso). 
 
Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica no endereço abaixo: www.diariodopovo-pi.com.br/Jornal/Default.aspx
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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

São Miguel do Fidalgo: breve relato

            Alguns municípios do Centro Sul do Estado do Piauí faz parte da região conhecida como o Vale do Fidalgo e, São Miguel do Fidalgo é uma das circunscrições que faz parte desse belíssimo território.
            O processo de desenvolvimento do município supramencionado, conforme pesquisa realizada ocorreu da seguinte forma: a localidade Banco de Areia, em um referido momento, pertencia a José Gonçalves de Sousa, conhecido como Zé Façanha e, no ano de 1946 vende a propriedade para Manoel Borges Leal, o popular Né Borges (dono na época, de outras propriedades na região) que, em meados do ano de 1952 repassa o título da propriedade fincada às margens da Lagoa do Fidalgo para, Miguel Marinho de Oliveira, que principia imprimir uma nova identidade no torrão.
            Os latifundiários Manoel Borges Leal e Miguel Marinho de Oliveira, ambos eram natural do município de Picos, e no concernente período do tempo com os espírito de aventureiros, empreendedores, fazendeiros, comerciantes e bons de negócios, levantaram voos e resolveram ficar raízes na província do Fidalgo.
            Com um perfil arrojado, o novo dono da Fazenda Banco de Areia com maestria, passou a registrar um efetivo progresso no lugar. Arquiteta construções de casas e entrega para os seus moradores e, começa erguer um pequeno mercado para facilitar a comercialização dos produtos agropecuários dos habitantes da região, dando início uma pequena povoação. É verdade que, pelos vestígios encontrados dos povos antepassados nos rincões das chapadas adentro, como alicerce de casas, cacos de telhas, cacos de potes, cerca de pedra, dentre outros, é certeza que por ali o homem já tinha desbravado, entretanto, não tem até onde averiguado, nenhum arquivo dos fatos na história dos residentes dessas terras da época de então.
            Em 27 de setembro de 1953, foi à data marcada para a inauguração do mercado e a primeira feira começou com o transito das pessoas em condições favoráveis. A animação ficou por conta do sanfoneiro com o pseudônimo de Passo Preto, e seu baterista de nome Euclides. Os músicos foram contratados no município de Oeiras para fazer a agitação, que seguiram com o forró no comovente domingo noite adentro. Cachaça era o que não faltava na festa e, relatos de pessoas que dão notícias do feito na ocasião afirmam que, o baterista Euclides só tinha uma perna e era um dos que mais dançava em meio o salão. 
            A primeira igreja foi edificada em meados de 1957 e, colocado como padroeiro, o Santo São Miguel Arcanjo, em homenagem a Miguel Marinho de Oliveira, falecido em 06 de outubro de 1954. A povoação da localidade Banco de Areia foi se desenvolvendo e, já povoado, em 27 de dezembro de 1995 depois de passar por um plebiscito em 03 de dezembro deste mesmo ano, o município com o nome de São Miguel do Fidalgo foi criado através da Lei nº 4.811, apartando da divisão administrativa de São José do Peixe, distrito outrora de origem. Com a primeira eleição em 03 de outubro de 1996, a efetivação dos primeiros cargos políticos da circunscrição territorial se concretiza em 01 janeiro de 1997.
            O povo fidalguense continua a caminhada no horizonte dos tempos e, com afinco, estabelecendo os fundamentos para as narrativas de um próspero amanhã. 


                                                                                                                                                                                                                                    Josselmo Batista Neres
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Crônica publicada no JORNAL DIÁRIO DO POVO DO PIAUÍ em 13/12/2016 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso). 
 
Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica no endereço abaixo: www.diariodopovo-pi.com.br/Jornal/Default.aspx
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sábado, 26 de novembro de 2016

Registro de um passado



           Verificando a caixa de mensagem, deparei-me com o correio eletrônico recebido em 18 de novembro com o seguinte título: registro de um passado. A autora do feito com as emocionantes palavras afirma: Olha só o escrito com data de... que encontrei limpando minha caixa de e-mail:           
            - Não quero mágoas, quero liberdades! Quero o que de melhor eu possa me permitir... Quero o extraordinário! Quero o suspense que o óbvio possa provocar em mim... Quero esse verbo transitivo que me provoca vontades. “O amor dá suspense ao óbvio.” Quero suspenses, quero frio na barriga, quero receio na hora de ligar e de atender. Quero devaneios, quero furacões. Talvez fosse tudo isso que quisesse sentir com você. Queria sentir meu coração palpitar mais forte como antes, com sutilezas que me enchiam de adrenalina... Queria te encontrar em um olhar como antes eu conseguia. E você foi tão sutilmente perdendo-se, em atitudes, daquele homem por quem me apaixonei. E não era culpa sua, nem minha... Como acreditamos nada acontece por acaso. Ou talvez eu tenha me perdido da mulher que era... Simplesmente eu passei a morar no teu abraço. Deixei minha solidão de lado pra me sentir desacompanhada por mim mesma, ao seu lado. Nunca pensei que alguém se perdesse em sua identidade com tantas sutilezas. Porque se eu não puder ser como eu sou com alguém, então prefiro continuar sendo... Sozinha. E isso foi me sufocando e ao mesmo tempo me mostrando o caminho... E eu estava tão cansada de mim que me esvaziava em epifanias: quem era eu na sua vida, na minha vida, na nossa história? O que tinha restado de mim depois de viver tão imersa e imensamente o nosso encontro? E onde eu caberia nos seus planos do “eu vou fazer, eu vou realizar, eu vou conseguir, eu vou viajar”? E o que EU imaginava pro meu futuro que não conjugava para “nós em laços”? Que se conjugavam em processo lento e solitário que eu precisava descobrir. E então ao subir ali pelo eixo distraído do agora... Olhando pra aquele caminho tão reto, tão óbvio, tão imponente em que pessoas caminhavam e eu pensava na gente e no que me tornei nessa história... Eu que sempre fui impulsiva, estava perdida de tudo aquilo que eu era. Quando você falou à verdade que caiu como um raio, percebi que não posso passar por cima dos meus sentimentos e emoções por ninguém... E que eu me amo, antes de amar alguém... E que tenho fé em Deus de que vou encontrar meu azul. Mas ninguém parece se aproximar de nada que eu anseio... Não em alma, em carne, em espírito. Tudo ao mesmo tempo! E eu sigo colocando defeitos... Acho que quero o amor, mas não estou preparada pro amor. E com você eu descobri que não tenho que ser compreensiva, nem me esforçar pra nada... Aprendi também que sexo com você é uma delícia... (risos)... Que conversar com você acalma, que sentir seu cheiro é trilouco e que você é tão interessante que da vontade de morder (risos)... E como diz aquela música, você não foi o meu primeiro amor, mas foi o que me marcou demais. E tudo isso ainda me toca de algum jeito e sigo a minha vida com serenidade...
            O escrito continua, com os relatos dos caminhos tortos, talvez, ou não? Por mais alguns vocábulos... E na última linha a escritora afirma: envio esse texto ao som da música “confesso” de Ana Carolina. Só vejo a mensagem na noite do domingo de 20 de novembro (dois dias depois) e confesso que diante da grandeza das palavras, fiquei supresso com  a produção outrora apreciada e, no agora, a emoção se reinventa sob uma nova medida.  

                                                                                                                                                                                                           Josselmo Batista Neres
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Crônica publicada no JORNAL DIÁRIO DO POVO DO PIAUÍ em 25/11/2016 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso). 
 

Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica no endereço abaixo: www.diariodopovo-pi.com.br/Jornal/Default.aspx

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quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Meio verdade, meio mentira



              Antes que me acusem de ouvir por trás da porta, de intrometido, curioso, vou logo avisando: não sou nenhuma coisa nem outra, apenas presto atenção no mundo a minha volta. Explico: Eu estava sentado na poltrona de um estabelecimento quando uma senhora que aparentava ter em média cinquenta anos de idade chega e se fixa em um assento próximo a mim. Passados alguns minutos, apareceu outra senhora que deveria ter em média uns cinquenta e cinco anos e, quando viu a senhora ali no encosto dirigiu-se a ela e falou: bom dia comadre Anastácia. A outra senhora retrucou: bom dia comadre Amélia. As duas mulheres ficaram agasalhadas na mesma poltrona, próxima a que eu estava e travaram o seguinte diálogo:
            - Comadre Amélia estou indo para a capital nesse final de semana, para agendar umas consultas médicas na segunda-feira, Sophia acordou a meia noite se vendo de dor e tive que levar ela para o hospital, foi medicada e voltamos para casa, mas o médico disse que o caso da minha filha é de cirurgia. Explana Anastácia.
            - Mas o que foi comadre, Sophia estava se queixando de alguma dor? Vi ela ontem no trabalho e parecia que estava bem de saúde. Interpelou Amélia.
            - Ela não estava se queixando de dor nenhuma comadre, foi de repente, o especialista falou que pelos sintomas é cálculo renal. Finalizou a genitora. 
            - É pedra no rim, comadre. Afirma Amélia.
- O próximo... O atendente do estabelecimento chama a senha do atendimento da Dona Anastácia.
A mãe da moça se dirigiu a mesa que seria recepcionada e a Dona Amélia continuou no assento. Liberada pelo atendente, Dona Anastácia se despede de Dona Amélia que ainda fica no sofá estofado até ser chamada pelo funcionário da instituição para resolver a sua demanda.
            Como não pude deixar de ouvir, meus caros leitores, os diálogos serviram como embasamento para o nascimento desse ensaio. Mas não fiquem apreensivos, esse episódio já faz alguns meses, creio que Sophia deve ter passado pelos procedimentos cirúrgico e já se recuperou dos efeitos do bisturi. Imagino que foi apenas um pequeno susto e, como diz o ditado: já está pronta pra outra. Digo: pronta para seguir normalmente com as suas obrigações cotidianas.
            O enredo explorado pela faculdade representativa dos pensamentos para a construção dessa história, meus amados telespectadores, é um grão no contexto transparente da ficção. A transcrição dos exprimes evoca uma verdade e uma mentira. Talvez mais mentira que verdade, ou mais verdade que mentira, ou meio verdade, meio mentira? O desenredar desse dilema ficará por conta da criação imaginaria de cada leitor. Só posso dizer uma coisa: siga com atenção a sequência dos acontecimentos, mantenha o senso apurado e, construa a sua própria maneira de ver tudo que existe no plano universal.

                                                                                                                                                                                                                                                    Josselmo Batista Neres
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Crônica publicada no JORNAL DIÁRIO DO POVO DO PIAUÍ em 17/11/2016 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso). 

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Uma verdade verdadeira



             Compreendendo as sensações exatas da frase: “quem lê, vai além do infinito”, de autoria do escritor picoense Fontes Ibiapina, digo mais: quem lê, viaja em lugares nunca dantes percorridos. Solta a imaginação. Desperta a emoção. Aflora os sentimentos. Aguça os pensamentos. Oxigena o cérebro. Incita às opiniões. Liberta os limites das interpretações variáveis... Enfim, para quem tem o hábito da leitura e de rabiscar palavras não faltam temas a serem abordados, lidos e recriados no campo literário. Assim creio.
As palavras ao meio do contexto informam. Transmite a realidade de um determinado ponto de vista do autor, e assim, o leitor com o senso apurado, constrói e reconstrói a história com uma nova visão. As narrativas no campo da imaginação a todo instante é editada e reescrita formando um novo enredo. A arte transforma a maneira de pensar de um povo. Os representantes da maioria com raras exceções, contribuírem com um sórdido subsídio com a literatura. Uma lástima.
Ausente de incentivo e pouca subvenção do poder público, fazer arte por nesse torrão é “malhar em ferro frio”. Em 1975, Fontes Ibiapina lançou o livro Paremiologia Nordestina e na apresentação intitulada de “Rol de Porteira”, o escritor aborda a insatisfação pela falta de um ambiente cultural mais ousado. Em um trecho do escrito o autor solta o verbo: “quem não tem irmão brinca só. Tal o nosso caso aqui vivendo a fazer literatura sem companheiro – solitário que nem gato de tapera, ou João-de-barro viúvo. Quem não tem cachorro caça com gato. Tristezas não pagam dívidas. Nem choro em pé-de-cova levanta defunto. Deixemos de pseudo intelectuais, por sinal, lerdos que nem velha devota, vivam por aí afora arrotando sapiência de Sábios da Grécia, dormindo que nem cobra preta estirada em palheiro de cana e escondidos que só bode de bicheira. Que nos interessa seus voos de marreca choca! Pura e sem mistura, besteira tentar acordar quem dorme em leito de loiros fictícios de intelectualidade evaporante. Não adianta assobiar quando o boi não quer beber água.” Esse trecho do calhamaço confirma a desprezível verdade verdadeira no semear dos tempos.
            No âmbito literário, a construção do conhecimento vem ao encontro da exaltação da cultura de um lugar, de uma região e aborda - com certeza - algumas reflexões pontuais que contribui para a elevação do quociente crítico. Pegando emprestada a expressão do filósofo, escritor, jornalista e político russo Alexandre Herzen, para complementar as minhas, o literato afirma: “a literatura num país sem liberdade pública é a única tribuna do alto da qual se pode fazer ouvir o grito da sua indignação e da sua consciência”. Em tese é uma autêntica conformidade com os fatos do tempo presente.
Adequadamente, um ou outro pode querer demonstrar opiniões contraria das letras semeadas nessa crônica, essa é a intenção, caso aconteça, terá todo o respeito e o entendimento e, as ideias proferidas serão incorporadas no ego construtivo, porém, caros leitores, mantenha o raciocínio acesso, a verdade é verdadeira, no entanto, deve existir no observador a reflexão sobre a condicionalidade padrão do encadeamento do discurso.  

                                                                                                                                                      Josselmo Batista Neres
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Crônica publicada no JORNAL DIÁRIO DO POVO DO PIAUÍ em 10/11/2016 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso). 

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