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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Patrimônio imaterial


            As palavras são variáveis. Carlos Drummond de Andrade, mestre do nosso idioma, no poema “A Palavra e a Terra” profetisa entre outros vocábulos o seguinte: “Toda forma/nasce uma segunda vez e torna/infinitamente a nascer... E a palavra, um ser/esquecido de quem o criou: flutua,/reparte-se em signos...". As palavras para chegarem aos moldes do poema, ao longo do tempo, a língua passou por diversas influências, transformações e modificações no decorrer da história.
            Visitando o Museu da Língua Português no histórico Edifício da Estação da Luz, em São Paulo, dei-me por conta a um diagrama em que a representação gráfica tinha como título: “As grandes famílias linguísticas no mundo”. Achei interessantíssimo, e sem maiores intenções, logo tratei em tirar algumas fotografias caso as imagens presenciadas se apaguem da memória; para guardar como recordações e para mostrar a quem dizer que estou mentindo, mas como ‘não sou besta nem nada’, comecei usando-as como fonte na construção desta crônica. Acompanhando a ordem cronológica das fazes da origem da língua até chegar ao estágio do português brasileiro, conforme se observa na estrutura: Indo-Europeu, Grupo Itálico, Latim, Latim Arcaico, Latim Vulgar, Romance, Romance Ocidental, Galego-Português, Português e Português Brasileiro, foi percorrida um longo caminho até o idioma atual.
            Nos vagões da história quando uma termina a outra começa. Nos primeiros anos da vida escolar aprendemos que o capítulo da história da língua portuguesa no Brasil teve inicio no ano de 1.500, quando os portugueses desembarcaram em nossa costa – é certo que devidas a outras influências ao tempo o idioma vai se modernizando. Revendo a história dos primórdios da língua, estima-se que por volta do ano 4.000 a.C (antes de Cristo) os povos de língua indo-europeu começaram a migrar para várias regiões da Europa e da Ásia, dando origens a mais de 60 línguas diferentes, espalhadas pela Índia, Iran, grande parte da Europa e das Américas. Assim sendo, todas são aparentadas do português.
            “A língua é um mistério sobre o qual vale à pena debruçar-se e refletir”. O Museu da Língua Portuguesa dedica à valorização e a difusão do nosso idioma ao qual é considerado um “patrimônio imaterial” do povo brasileira e tem como objetivo mostrar a língua como elemento fundamental e fundador da nossa cultura; apresentar a Língua Portuguesa ao visitante com as suas origens, histórias e suas diversas influências sofridas e mostrar ao cidadão usuário do idioma que ele é o verdadeiro “proprietário” e agente modificador da língua.
            Depois de conhecer o acervo com o deleite de modernidade do Museu interativo com o belíssimo jogo de palavras, som e imagens em formato de multimídia, que ajuda a contar e a construir a história e a cultura do nosso povo, e saborear as criações e ideias de várias gerações instaladas nos andares do edifício, voltei ao cotidiano, sentei-me em silêncio e comecei a rebobinar o filme da câmara fotografia e rever as capturas ali pressas. Um tanto quanto tudo visto nos espaços vivos do prédio da centenária Estação da Luz, prendi-me em fascínio na exibição da língua, da história e da cultura do povo brasileiro.
                                   
(*) JOSSELMO BATISTA NERES 
E-mail: josselmo@hotmail.com

Crônica/Artigo publicado no Jornal Diário do Povo do Piauí – PATRIMÔNIO IMATERIAL – em 30/01/2014 na página 18 - Galeria (Jornal Impresso).

Pode também ser conferido na Edição Eletrônica endereço abaixo:

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Cidadezinha do interior


A viagem por ser tão significativa tratei logo em começar esta crônica. O leitor que por acaso lê pode até ter um olhar torpe, mas releve, ninguém pensa igual! 
Estou de férias. Buscando o descanso do labor fiz o contrário do que muitos fazem, procurei o choque de civilização para esvaziar o estresse. Peguei o voo no Aeroporto de Teresina e pousei no Aeroporto Internacional de Guarulhos e mais alguns poucos minutos de carro cheguei ao Bairro Ipiranga – Vila Carioca, capital de São Paulo. Sem perder tempo logo dei continuidade ao itinerário da viagem. Fui a Rua 25 de Março – o paraíso das compras – e assistir estático a muvuca desenfreada do centro da cidade. Passou-me um filme como é as cidadezinhas do interior. Por falar em cidadezinha do interior, lembrei-me de um poema de Carlos Drummond de Andrade que chama “cidadezinha qualquer”. Vou tomar emprestado o termo ao ilustre autor e chamar a minha de ‘cidadezinha do interior’, mas não uma cidade do interior qualquer, mas a cidade da minha infância emoldurada na memória do “menino que ainda existe”. Como nos versos do poeta em “cidadezinha qualquer”, na minha ‘cidadezinha do interior’ também existem “casas entre bananeiras/mulheres entre laranjeiras/pomar amor cantar...” Envolto em lembranças da minha cidadezinha do interior segui à frente pelo centro da cidade, admirando umas coisas, comprando outras até se deparar com a famosa Catedral da Sé, o Marco Zero da cidade e a Praça que leva o mesmo nome da Igreja onde os dois monumentos estão fincados.  
            No roteiro turístico adentei ao Vale do Paraíba passando pelos territórios paulistas de São José dos Campos, Caçapava... E em meio outras cidades do Vale encontrei a Capital Nacional da Literatura Infantil, Taubaté, terra natal do escritor Monteiro Lobato, criador de conhecidos personagens infantil entre eles, destaque para Emília, Pedrinho, Narizinho, Dona Benta, Tia Nastácia e Visconde de Sabugosa.
            Seguindo a trajetória do passeio ao qual foi reservado cheguei ao Bairro do Brás – região central da cidade de São Paulo, conhecida como um grande centro essencialmente voltado à indústria e ao comércio de roupas. Passei por São Caetano do Sul e Santo André situados no ABC paulista e Ferraz de Vasconcelos na microregião de Mogi das Cruzes, todas cidade da região metropolitana da grande São Paulo.
Voltando a cidade que não dorme, em toda a permanência à luz do sol brilhou esplêndido todas as manhã e choveu às tardes, no mais o dia seguiu sereno em naturalidade. Depois de caminhar quilômetros em buscas de novas descobertas, sentei-me para descansar e aproveitei o momento para misturando letras em palavras como em um pré-acordo. Lá fora ouço o ronco frenético dos motores e a agitação das buzinas.
            A minha ‘cidadezinha do interior’ é pacata e não troco pelos grandes centros... Mas ei de convir, os centros são maravilhosos para fazer compras, buscar o conhecimento e tomar banho de civilização. O tempo esgotou-se, chega a hora de fazer o caminho de volta pela porta do Aeroporto de Congonhas e retornar a minha cidadezinha no centro sul do Piauí. Até a nova história.
                       
(*) JOSSELMO BATISTA NERES 
E-mail: josselmo@hotmail.com

Crônica/Artigo publicado no Jornal Diário do Povo do Piauí – CIDADEZINHA DO INTERIOR – em 18/01/2014 na página 02 Opinião (Jornal Impresso).

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http://www.diariodopovo-pi.com.br/Jornal/Default.aspx
 


sábado, 11 de janeiro de 2014

Quando a chuva cai no sertão...

                Terça-feira o sol quase não pareceu. Passou o dia chovendo. Uma chuva fina e serena que transformou o calor escaldante em um clima agradável. Coisa difícil de ver em meio o sertão. A imagem da vegetação seca, cinzenta e retorcida vista na maior parte do ano, com as primeiras chuvas o que parecia esta morta, ressurgem com a rapidez só fogo em pólvora dando lugar ao verde. As sementes das jitiranas, dos mata-pastos, das malvas brancas entre outros, são semeadas no fim das águas pelo vento e pelos pássaros no solo seco e quando volta a chover brotam da terra formando um ‘canteiro verde’ onde antes só via a terra limpa.  
               Quando a chuva vem à paisagem renasce. A jitirana que é da família das Convolvulaceaes do tipo trepadeira, é uma das plantas que tem grande destaque por ser de rápido crescimento, espalha-se ligeiramente pelo chão e se enrosca aos troncos das vegetações e cercas, servindo como um dos primeiros alimentos dos animais nas primeiras águas. Os arbustos do marmeleiro, mufumbo, pau-de-rato conhecido também como catingueiro, jurema... Assim como outros tipos de vegetação que durante toda a estiagem não se encontra uma folha verde para fazer ‘remédio’, logo às primeiras chuvas caem na caatinga à vida volta aos galhos secos no que pareciam estar morto, renascendo como a fênix.
                A falta de chuva e de um clima amena afeta os seres vivos em geral. O sertão quase o ano inteiro é tragado pelo insuportável calor, onde nem os eletrodomésticos dão conta de abafar o vapor escaldante – o umidificador de ar não faz nem cosquinha mediante a tamanha sensação térmica, o ventilador em muitas das vezes o sopro do vento mais parece o vapor de um secador de cabelo e a central de ar e/ou ar condicionado nem todas as pessoas podem ter esse bem, com exceções a uns poucos, quando tem o desejado aparelho elétrico não podem adentrar noites adentro com o objeto funcionando, o pagamento da conta de energia vai fazer falta na compra do feijão... 
                No ano de estiagem prolongada o sofrimento do sertanejo é lamentável. Os açudes e as lagoas secam e o solo fica sereno de rachões. Ao ser lançado os primeiros pingos de chuva do alto das nuvens no torrão o sertão fica em festa. Quando o tempo ‘fecha’ e ensaia desfiar as gotas das nuvens, o menino em alvoroço grita: “Mamãe me deixa banhar na chuva”. O homem do campo no alpendre da casa olha ao redor procurando a nascente da chuva e profetiza: “A chuva é geral” e planeja em pegar os bois e preparar o arado para lavrar a terra para o plantio – “vou ‘aradar’ as terras lá da roça de baixo para plantar milho e feijão”.
                Os bichos brutos é quem mais sofre com os efeitos da seca. Como todos os outros animais, o gado vive com quase sem água para beber e com pouca pastagem. Quando São Pedro abre as torneiras no sertão o boi munge com vigor. Os pássaros voltam a pular de árvore em árvore cantarolando e o sertanejo que cria algum rebanho resmunga: “Nas primeiras ramas, vou soltar o gado na chapada, para dar uma folga na roça e criar pasto.” Viva o sertão. 

(*)JOSSELMO BATISTA NERES é funcionário do Banco do Brasil
E-mail: josselmo@hotmail.com
 
 
Crônica/Artigo publicado no Jornal Diário do Povo do Piauí – QUANDO A CHUVA CAI NO SERTÃO... – em 10/01/2014 na página 02 Opinião (Jornal Impresso).

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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Heitor


                                                  (*) JOSSELMO BATISTA NERES

            Papel e caneta postos para não deixar escapar o momento imponente. Estando em voga o debate sobre a biografia dos famosos onde uns autoriza outros não autoriza, com Heitor não ouve discussão – “está autorizado” frisou o Biografado. E olha que as linhas escritas são dos caminhos retirados da circulação. Então autorizado, vamos lá. Heitor nasceu da consciência ingênua. Fruto proibido. Vingou-se permeado aos olhares curiosos. Surgiu ao mundo com a benção dos deuses da natureza humana, para a perpetuação eterna. Nasceu na cidade de Oeiras e após correr dez anos do seu nascimento foi registrado como tendo sido no município de São José do Peixe. O sangue que corre nas veias de Heitor é de Jeová, mas no registro de nascimento é como se fosse de Ramon. Mente em ebulição... A literatura reinante encarregou-se de juntar os fragmentos e semear ao tempo dando vida a real história. A verdade cravada no escopo do escrito tratou de fazer justiça e elevar a consciência do enigmático caminho.
            Carente no canto dos contentes. Heitor é rotulado de gênio forte, destemido... Mas quem o estuda em uma forma mais profunda ver humildade e generosidade. As emoções carregam os fatos das dadas circunstancias. Heitor não se curvou a sorte imposta. Buscou-se a sorte! Banhou-se no mar inocente e saiu com o dever de não menosprezar o que a consciência o impõe. Nascido da pedra bruta, de natureza simples e sem opções de escolhas, foi afinco no estudo para encontrar a porta do futuro.   
            Surgiu ao mundo na inocência feliz, para seguir na carenagem da história. Dentre a sua maneira não há regra a ser obedecida. Heitor elegeu no transcurso das andanças, os obstáculos e os espinhos espalhados ao trajeto, como fatos tidos como necessários para dar continuidade à vida. “Ainda bem que eles estavam lá (os obstáculos e os espinhos), aprendi com eles, dei mais valor a vida”. Assim a vida tornou-se vivida com mais ênfase, e como as grandes coisas já tinham a sua importância, as pequenas foram dadas à importância merecida.   
            Fragmentos da realidade. Libertado do sofrimento imposto pela barreira da censura, transpôs a injustiça imposta na consciência e festeja a fertilidade. Traçou o destino. Abandonou a falsa sombra e seguiu fazendo a própria história. “Não nasci para ser coadjuvante, nasci para ser o personagem principal”. Para Heitor, “quando Deus fecha uma janela abre uma porta” e como a vida não era tão fácil para ele, cada degrau conquistado tinha um sabor imensurável. As confusões da mente, os caminhos tortos e os espinhos encontrados nos percursos, foram usados para amparar o senso e serviram como alicerce na construção da vida.  
            Não existe deus que não seja o Deus de todos. O caminho a ser seguindo está dentro de cada um. Heitor disse que para encontrar o que deseja “basta ter uma linha de pensamento e seguir com calma deixando a naturalidade tomar conta da alma”. O mundo gira e a direção seguida pela vida aos poucos vai sendo (re) escrita, ganhando forma e espaço.

(*)JOSSELMO BATISTA NERES é funcionário do Banco do Brasil

Crônica/Artigo publicado no Jornal Diário do Povo do Piauí – HEITOR – em 31/12/2013 na página 02 Opinião (Jornal Impresso).

Pode também ser conferida na Edição Eletrônica endereço abaixo:
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