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domingo, 19 de outubro de 2014

Mandacaru

            Mandacaru quando fulora na seca / É o sinal que a chuva chega no sertão... A letra da música “Xote das Meninas”, composta por Luiz Gonzaga e Zé Dantas, e espalhada à melodia na voz do rei do baião, nela o mandacaru foi cantado, encantado e eternizado. Resistente às condições climáticas do semiárido, a árvore como é considerada pelos botânicos por causa do caule lenhoso é o símbolo de relutância da seca, devido a grande capacidade de captação e retenção de água nas hastes carnudas e suculentas. Com o nome científico cereus jamacaru, o mandacaru como é conhecido popularmente, é uma planta da família das cactáceas e pode alcança em média cinco metros de altura a qual possui um formato que lembrar um candelabro. Em períodos de escassez de chuvas, com secas prolongadas, o agricultor de poucos recursos recorre ao arbusto cactáceo nos períodos críticos para alimentar os animais, principalmente o gado bovino.
A árvore também serve para a restauração de solos degradados, ornamentação, escultura viva, propriedades medicinais, princípios ativos e fazer cerca natural por ser uma espécie de vegetal espinhoso, entre outros. Comum no nordeste brasileiro, o mandacaru tem a flor branca, perfume suave e abri as pétalas só depois que o sol se põe e fecha devagar logo ao amanhecer para não mais se abrir, ou seja, cada flor só dura um período noturno. O fruto é comestível. Tem a cor violeta forte, a polpa é branca e com várias sementes minúsculas pretas. Ao meu paladar o fruto tem um sabor insípido (confesso que não é das minhas preferidas), já outras pessoas dizem ser saboroso. Diversas aves da caatinga tão logo ver o fruto maduro, começar a bicar a casca para se alimentar da parte carnuda.
Quando morava no município de São José do Peixe, no lugar Canto da Volta, hoje São Miguel do Fidalgo, o que mais eu gostava da árvore era usar o caule seco como balsa. Não entendeu? Deixa-me explicar. O mandacaru seco por ser bem leve não afunda e na minha meninice junto com outros guris disputávamos uma tora do cereus jamacaru para usar nas brincadeiras quando dos banhos nas águas da lagoa do Fidalgo, e por muitos servia como instrumento de travessia de um lado para o outro do lago, funcionando como se fosse um barco.
O arbusto é muito apreciado pela fauna, principalmente como alimento alternativo para sustentar os rebanhos bovinos lá pelo “fim da seca”, quando a fome está braba e nas roças não se encontra mais pastagem. Por causa da grande quantidade de espinhos espalhados por toda a superfície é preciso queimar o cacto para por fim os ferrões e só depois de sapecado é que corta em pequenos pedaços e coloca na cocheira para os animais saborear a ração. Entretanto, a utilização constante da planta nos sucessivos anos de seca, sem a reposição, pode levar o árvore à extinção e distanciar o criador da cultura. No entanto, o mandacaru, continua como uma referência para o povo em época de estiagem, por sua durabilidade, adaptabilidade e beleza. Continua como símbolo de austeridade e como identidade do cidadão que vive no torrão.

(*) JOSSELMO BATISTA NERES
E-mail: josselmo@hotmail.com

Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 19/10/2014 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).
Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica no endereço abaixo:
http://www.diariodopovo-pi.com.br/Jornal/Default.aspx

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