00:00:00

terça-feira, 29 de julho de 2014

A casa do meu avô

              Linda, enorme e intacta. A fachada da casa vista por todas as faces é uma imagem viva na minha memória. Luiz Leal de Moura Santos era mais conhecido por todos como Luiz Cândido, nome em homenagem ao seu avô paterno que se chamava Cândido de Moura Fé. Homem de coragem e com uma visão de futuro incomparável, meu avô fez história no seu tempo e no transcurso é eternizado pela personalidade ímpar e os efeitos do reflexo imponente. Luiz Cândido casou-se com Joaquim de Moura Batista, todavia, as histórias penduradas na árvore genealógica da família de meus avôs vou deixar para um próximo escrito, por que, neste meio terno, a minha mente está inundado em lembranças do cenário ao entorno da casa do meu avô, aliás, há alguns dias a imagem da ambientação e a figura carismática do patriarca vem fazendo um redemoinhando nos meus pensamentos. Depois de algum tempo, nesse final de semana, voltei à velha casa, por alguns minutos fiquei a admirá-la e com os pensamentos reflexivos logo comecei a registrar a paisagem em volta com a câmara fotográfica. Prendi várias imagens do arredor ao filme para não ficar registrado apenas na minha mente e ser fonte no curso vindouro.
            No ambiente sereno da escrivaninha revejo a sequência das cenas e entre umas fotografias e algumas filmagens de pequenas durações do toda em volta, bateu-me uma saudade imensurável dos tempos da infância vividas no torrão, logo resolvi reavivar o ambiente da imensidão em volta da casa com todos os pormenores ao alcance das bordas dos terreiros e desenhar a paisagem recorrida nas instâncias que permeia o todo. Prometo que no momento oportuno apresento a parte interna na casa.  
            A casa com a frente para o sul tem um grande juazeiro que ameniza o sol escaldante em boa parte do vasto terreiro e na mesma direção a uns 100 metros fica o poço tubular e alguns coqueiros, mangueiras, cajueiros, bananeiras... No lado leste vê a capela, o curral e uma tamarindo com uma sombra que cobre uma ampla parte do cercado o qual tem a porteira com frente para o oeste. Em frente à capela está fincado um cruzeiro com uma inscrição no meio do braço da cruz com a seguinte grafia: “EM 10/06/1983”. A data desenhada com escopo na própria madeira foi feita pelo o autor da obra Raimundo Neres Neto e significa a era que foi feita e ali posta. No lado norte, a parte de trás da casa já beirando as bordas do terreiro tem um juazeiro e uma seriguela. Ao oeste dois imbuzeiros. Toda em volta a casa muitas galinhas, porcos, ovelhas, boi, vacas...
            Aguçado pelo brio dos sentimentos particularizados, fecho os olhos e rebobinando o filme da memória ao tempo juvenil em estada na casa, no alvorecer, ouço ao fundo o mugi do gado, a cantoria dos pássaros, o rádio de pilhas na freqüência AM tocando sertanejo de raiz... Vejo-me deitado na rede sentindo um friozinho agradável e com os pensamentos em autonomia reiterada ao ouvir a moda de viola. A sequência é reservada o espreguiçar do bom sono, respirar o ar puro, observar as folhas com respingo do orvalho em volta a casa e despertar ao ver o dia ganhando fôlego – tudo me traz a sensação de liberdade.
             
            (*) JOSSELMO BATISTA NERES
E-mail: josselmo@hotmail.com

 Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 24/07/2014 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).

Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica no endereço abaixo:

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Fervor emblemático


            Sem diálogo a última escolha é abandonar o mundo em que vivo e retornar para a realidade. Não saúdo a vida com pranto. Prefiro o silêncio ao falatório desajustado. Prefiro as palavras harmônicas, doces e suaves ao invés das que trazem o fervor emblemático, estas sim, ficam impregnadas na alma e é transbordante de compaixão. Quando o sentimento é para fora, externo, bate e volta, ou seja, não deixa abater-se com as palavras pejorativas cheias de sensibilidades e nem altera a forma transparente de encarar o viver, a pessoa tem no corpo uma proteção natural como se fosse um escudo para rebater as atrocidades. Entretanto, se o sentimento for para dentro o efeito das palavras é internalizado na alma de uma forma crua e violenta. Mesmo que queira controlar a programação do cérebro e bloquear a funcionalidade indesejada dificilmente vai conseguir e o resultado é o redemoinho de pensamentos nefasto. A esportiva não funciona. A emoção passa a ser a razão e a essa altura o que bateu no coração subiu ao juízo com um efeito enérgico e corrosivo.
            Quando por vezes algum dito é internalizado, os pensamentos ficam em reboliço à luz do dia. Já na calmaria da noite, sozinho, quieto ao canto, os miolos ficam em guerra e quando chega à hora de repousar que coloca a cabeça no travesseiro para cair no sono e moderar por um instante a impressionabilidade corrosiva que afronta as ideias e consegue dormir chega o sonho aflitivo e extremamente desagradável produzido pelo efeito da opressão das palavras. Os impulsos frenéticos voltam a reinar.
            Para esquecer os desvios da imaginação que vez por outra vêm de encontro, alguns se ocupa conversando com um amigo e/ou amiga, sentam-se em um restaurante ou em um barzinho para beber uma cerveja e trocar algumas palavras de consolação conforme a ambientação do momento, ao invés de ficar tentando escrever a sensibilidade do fervor emblemático preso na alma ao qual nem ela mesma entende e ainda vai correr o risco de alguém ler e dizer que o escrito é leviano. Não importa, é a expressão da própria vida. Para quem usa o papel e caneta para o ofício, não excluindo os que usam a nobreza da tecnologia, essa é a maneira de acalentar o ânimo. Preso na loucura em raras exceções é melhor distrair-se com a caneta misturando letras do que sair por ai jogando palavras ao vento. Cada um tem a sua forma particular de pensar e de agir. Pode não ajudar em nada, pode não ser inovador e nem acrescentar patavina no seio da vida com tais termo, todavia, vamos combinar uma coisa, caro leitor, te falo baixinho, essas palavras são um tratado para curar os desvios que existem no descontrole emocional e afagar o espaço vazio que estar além dos pensamentos, no entanto, é a forma de manter-se vivo e fora dos freelance dos momentos inoportunos que se desprendem da lucidez e mergulha na loucura.    
            Quando o sentimento é internalizado o uso de mascara para esconder-se da verdade empanada na real situação que beira o momento é bola fora da rede. Fingir também não funciona, é melhor ser igual a você mesmo. Não disfarce, não dissimule no rosto o que não sinta no coração, coloque para fora o sentimento traiçoeiro preso na alma.

            (*) JOSSELMO BATISTA NERES é funcionário do Banco do Brasil
E-mail: josselmo@hotmail.com

Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 26/07/2014 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).

Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica no endereço abaixo: