A necessidade de imprimir a marca
no mundo da existência faz o poeta, o cronista, o contista, o romancista, o
historiador, dentre tantos outros gêneros, a recorrer “as penas do ofício” e
projetar a construção da caminhada conforme a sua necessidade. A temática de
cada texto surge no percurso obedecendo ao estado de espírito do letrista. As
palavras lançadas na comunicação com o mundo da vivência servem para ensinar,
informar... E como terapia para as agruras. Os vocábulos são usados na sombra
da ficção de mentira para encapar as lembranças da memória. Umas usadas à luz
da verdade, outras usadas no ludíbrio da escuridão. Nos dois lados da moeda,
quando em um a nobre missão transforma os ditos em palavras revolucionárias, o
outro faz renascer a liberdade nos termos da própria palavra.
Nem sempre as palavras plantadas em
um discurso toca o coração das pessoas, e nem por vezes, as emoções germinadas
em um pedaço de papel alimenta a reflexão persuadida. A literatura está a toda
a nossa volta: na bula do remédio, nos livros de ciências exatas, nos livros
didáticos, nos jornais impresso, na internet... A escrita está impressa de
várias formas, temáticas, estilos e gêneros. Todas as configurações da grafia
têm o seu valor exposto incalculável. Não importa o seguimento a qual as
palavras estejam se dirigindo.
Escrever palavras é conversar no intervalo do momento em pulsação. Na argumentação
de Fernando Pessoa “escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais
agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes
vivas (como a dança e o representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da
vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida –
umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da
mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é
uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um
poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém
emprega, pois que ninguém fala em verso”.
Literatura é consciência, dá voz à
indignação e abranda a ignorância. O momento representado pela ilustração da
visão mim faz escrever sobre o tudo em volta. No entanto, as gravuras nascem de
um espanto. Escrever sobre um determinando tema sem um tropeço para um susto é
causticante. O êxtase é necessário para fazer brotar a escrita. Com o abalo os
assuntos decorrem naturalmente. Já sobre mim não escrevo muito, tenho preguiça.
É muito cansativo. Como Clarice Lispector “não escrevo com a intenção de
alterar nada, escrevo o que sou...” Escrevo as pedras espelhadas pelo meio do
caminho, as lindas flores das árvores espinhosas. Separo o real do devaneio e
uso a verdade para contar a ficção de mentira. A missão é misturar letras em
palavras e desenhar o cálculo da reflexão do tempo presente.
(*) JOSSELMO BATISTA NERES
E-mail:
josselmo@hotmail.com
Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 27/01/2015 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).
Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica
no endereço abaixo: