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terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Soberana ocasião


           “Você é um dos caras mais influente da cidade, entendeu? O cara mais culto que tem na nossa região no momento está sendo você...” Modéstia de um conterrâneo fidalguense dentre os da minha meia dúzia de telespectadores, espalhados por esse chão de meu Deus. Agradecido pelas palavras.  Mesmo não chegando a tanto, fiquei radiante. A força dos aplausos embevece.  
            Sentar no trono em frente a maquina de escrever e garatujar sobre os pormenores de ocasiões solenes, talvez, seja a minha sina. Registrar e dá cores ao tempo, é uma premência indispensável. As palavras clareiam à densa escuridão. A narrativa atende o chamamento de uma secreta razão.
            Não me pergunte o valor de um raconto concluído. A moeda é uma mera particularidade. A sensação soberana é única. A importância do resultado da ação que uma sucessão de fatos terá hoje ou no amanhã é o que menos importa. Mas essa é outra história. A opinião do leitor, essas, todas são bem vindas, sem exceção. O fortalecimento nasce de um pequeno detalhe. Uns leitores louvam, outros putrefazem. Lembro o poeta Augusto dos Anjos e a sua poesia da transgressão, causando repulsa no grande publico da época. Com um único livro lançado em vida, chamado “Eu”, é um exemplo de originalidade. As ácidas críticas destrutivas? Talvez. Foi avassaladora com a maneira de o poeta fazer poesia. O reconhecimento triunfante da sua obra por meios literário só veio alguns anos após o seu falecimento. Anos depois da morte do autor supracitado, ouve a organização de uma nova edição, intitulada de “Eu e Outras Poesias” incluindo poemas inéditos. Além da obra assinalada anterior, outros títulos postumamente fora organizados e atribuídos ao escritor. 
            O exemplo supramencionado no parágrafo anterior mostra a soberania do poder das letras embaralhadas. O labor do alto do trono é estritamente consciente, creio. Se for agradar ou não ao público, este, se não for uma demanda feita por encomenda, não interessa quem vai bater palmas ou quem vai jogar pedras. O preenchimento da conveniência é o que aufere. O imaginário alheio pouco interessa ao esculpidor das palavras. O elogio e a crítica, em meio à literatura se completam.   
            Envolto a criatividade, os padrões comuns em meio ao cultivo bibliográfico registram nas suas formas e efeitos: a crítica, a ironia, a informação... manda um recado, manifesta o real transvertido de ficção, insulta e chama a atenção do leitor, qualifica o subjetivo, singulariza a solidão, abranda a angustia, atenua a escuridão, materializa os sentimentos... Enfim, as palavras lançadas do pedestal em soberana ocasião, em muitos casos, se tornam armas fatais. Tem um poder eminente portentoso.             
            Intrinsecamente, como bem afirma Augusto dos Anjos no poema “Contrastes”. "Tudo convém para o homem ser completo". A forma, o motivo, o objetivo... a razão e a emoção de ir ao encontro dos próprios instintos, restritamente, é um comportamento íntimo, âmago e particular. Abalizando o transpassar do campo da escrita, com a permissão do ser superior, vejo nitidamente no regimento dos textos, a eloquência do eu e outras palavras. Assim creio. Creiam todos. A resposta para todas as indagações, questionamentos, avanços e progresso esta dentro de você mesmo.  

                                                                                                                                                                                                                                    Josselmo Batista Neres
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Crônica publicada no JORNAL DIÁRIO DO POVO DO PIAUÍ em 07/02/2017 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).    


Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica no endereço abaixo:www.diariodopovo-pi.com.br/Jornal/Default.aspx
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