O passado e o futuro andam sempre
presente. A festa acabou, mas os restos do carnaval continuam. Trancafiado na
minha escrivaninha, ouço o som das marchinhas de carnaval que se perpetuaram ao
longo das festas do rei momo e no exato instante fiquei a pensar: Como falar do
tempo vivendo dentro do próprio tempo? Para uns o tempo se encarrega em
construir no compasso de cada passada o desígnio, para outros o destino de cada
pessoa dentro do tempo já nasce delineado. O que importa? Elegendo um conceito
ou outro o certo é que o tempo é o senhor do destino. Com o tempo, no momento
inerente, o próprio momento dentro do momento vai mostrando a sua verdadeira
face e com o andar da carruagem “as melancias vão se agasalhando”. Existe o
tempo passado, o tempo presente e o tempo futuro. O tempo presente é a fase em
andamento, o hoje, o agora; o tempo passado retorna em meio às voltas ao presente
pelos trilhos da imaginação; já o tempo futuro brota com a construção do planejamento
no porvir e à forma de pensar e agir encaixa-se no presente.
A emoção embrulhada em todos os
pensamentos é uma palpitação do momento que faz os demais sentidos ter sentido
no espaço e no tempo. Nas surpresas de cada acontecimento, o registro da
existência faz com que, em toda ação o sangue siga pulsando nas veias, bombardeando
o coração e fazendo o ser enxergar o reflexo da própria imagem no espelho. No
desenrolar do semear cada letra para formar uma frase, a emoção registrada no latejo,
dormir e acordar com o coração ligado sem parar envolto no dinamismo da
agitação frenética, o alerta do despertar do dia, o nascimento das ideias, a
ação da escrita, o lançamento da obra... Cada fase da preciosa vida em meio ao
tempo, o constante movimento de um momento preso no tempo, à pulsação
registrada pela imagem da visão, é a vida seguindo a sua trajetória.
Nesse exato momento as marchinhas de
carnaval tocadas ao longo de vários carnavais, foram substituídas pelo rit que foi uma febre durante todos os
dias da patuscada: “E a muriçoca / Soca, soca, soca, soca, soca, soca, soca / E
a muriçoca / Pica, pica, pica, pica, pica, pica, pica / E a muriçoca / Soca,
soca, soca, soca, soca, soca, soca / E a muriçoca / Pica, pica, pica, pica,
pica, pica, pica / Eu quero dormir de noite, e não consegui dormir / Um zunido
nos ouvidos, a muriçoca vem ai...” E o batidão continua. Talvez esta melodia não
dure um tanto quanto as marchinhas. Todo ano é assim, no período festivo surgem
essas músicas com letras de duplo sentido e não duram até a próxima festa carnavalesca.
Os
batuques da folia correram soltos nos paredões de som. Na abertura da folia na
sexta-feira fiquei na rua prestigiando a festança até altas horas da madrugada.
Na tarde do dia seguinte preferi ficar em casa brincando de juntar letras em
palavras. Descartei o chamamento dos amigos feito pelo WhatsApp para cair na folia e resolvi se entreter com os vocábulos e
descrever “o ritmo da batida do coração”, porque “escrever para mim é
sobretudo um ato de descobrir a mim mesmo. Se tivesse que dar um único conselho
para alguém, seria este: não se deixe intimidar pela opinião dos outros. Só a
mediocridade é segura, por isso corra seus riscos e faça o que deseja”. E
diante de tudo lembre-se caro leitor, depois da noite escura nasce um novo
amanhecer.
(*) JOSSELMO BATISTA NERES
E-mail:
josselmo@hotmail.com
Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 03/03/2015 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso). Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica no endereço abaixo: