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segunda-feira, 30 de março de 2015

Infinito Particular

Usamos por vezes algumas palavras na sombra da ficção de mentiras para encapar a verdade das reminiscências.

Usamos por vezes algumas palavras na luz da verdade para esconder a escuridão da noite densa.

Os pensamentos são variáveis, por vezes tem duas ou mais configurações, ou seja, envereda por mais de uma forma de pensar.

Excluindo as exceções, em um dos ângulos o infinito particular dita o interior do coração e, um tanto quanto, o outro nas mesmas proporções faz renascer a liberdade intrínseca no peito.    

Josselmo Batista Neres

quarta-feira, 18 de março de 2015

Tecendo manhãs



O mineiro Otto Lara Resende certa vez escreveu que “só as crianças e os poetas têm os olhos atentos ao espetáculo do mundo.” Em suma, todos os praticantes fiéis ao tecer letras em palavras dentro da perspectiva da literatura estão sempre atentos aos conflitos entrelaçado pelas veias da humanidade. Ou não? Mesmo que possam ser involuntárias as passagens mais marcantes que os ladeiam estará implicitamente capturada dentre os traços linguísticos os quais são proferidos e indagados. Os meus escritos a crítica diz ser de tessituras temáticas e de cunho otimista. Outros afirmam que enveredo por contextos distintos. Não importa. Falo do que a me é incumbido pelo incomodo, pela alegria ou pelo prazer de dizê-las. Em meio às voltas os textos não passam de meras ilustrações sobre o enfado que desperta as contradições que o mundo real impõe e narrados com precisão ao expor os conflitos com o universo, mesmo que muitas vezes usando a “ficção de mentira” para aduzir a forma de pensar.
O espanto com o orbe a cada manhã é uma forma de encarar a vida de um modo bem individualizado. Como no trecho da letra da música composta por Almir Sater “conhecer as manhas e as manhãs, / O sabor das massas e das maçãs, / É preciso amor pra poder pulsar, / É preciso paz pra poder sorrir, / É preciso à chuva para florir.” É preciso marcar a cada compasso o lugar na existência. Não faço nada mais que conversar com o mundo a minha volta.
Reproduzir os pensamentos usando as palavras para falar dos próprios pensamentos, em síntese, não é propriamente imitar o som, mas tecer o esplendor da manhã. Fazendo uso da metalinguagem consciente ou não os vocábulos plantados em cada escrito surgem como meio verdade, meio mentira; meio civilizado, meio selvagem; meio em harmonia, meio em truculência... O “grito do galo que vai passando de um a outro” no alvorecer, tece a manhã e, quem sabe o amanhã. 
A prática de paralelos usando a literatura para enredar o registro das memórias filtradas pela ficção de mentira, pelo humor e pela capacidade de observação incorporada de todas as manhãs, são organizadas dentro de variadas remontagem de estruturas e unidas na composição solidária gradativa do amanhecer. Tecendo manhãs surgem com a necessidade variável anexa a cada momento, com uma inspiração compulsiva reavivando o passado, relumbrando o presente, abrindo caminho na construção do futuro e abordando as mais distintas contexturas.
O principal fator verbal caracterizador da construção dos textos e direcionador de outros constituintes linguísticos a ele assimilados é apoiada pela composição instável de mecanismos e por uma porção de entretenimentos pessoas perdidos no tempo às quais são reencontradas pelos ativos das reminiscências. No entanto, caro leitor, não espere encontrar em meus textos “a perspectiva de um adulto que olha para trás com nostalgia ou distanciamento”. As disfunções comportamentais causadas pelas saudades tem uma forma bem particular e me faz lembrar que em cada madrugada o galo canta e o dia desperta com o sol reluzindo a nova manhã.

(*) JOSSELMO BATISTA NERES
E-mail: josselmo@hotmail.com
 

Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 13/03/2015 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).  Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica no endereço abaixo: 

sexta-feira, 6 de março de 2015

Passado e futuro sempre presente

O passado e o futuro andam sempre presente. A festa acabou, mas os restos do carnaval continuam. Trancafiado na minha escrivaninha, ouço o som das marchinhas de carnaval que se perpetuaram ao longo das festas do rei momo e no exato instante fiquei a pensar: Como falar do tempo vivendo dentro do próprio tempo? Para uns o tempo se encarrega em construir no compasso de cada passada o desígnio, para outros o destino de cada pessoa dentro do tempo já nasce delineado. O que importa? Elegendo um conceito ou outro o certo é que o tempo é o senhor do destino. Com o tempo, no momento inerente, o próprio momento dentro do momento vai mostrando a sua verdadeira face e com o andar da carruagem “as melancias vão se agasalhando”. Existe o tempo passado, o tempo presente e o tempo futuro. O tempo presente é a fase em andamento, o hoje, o agora; o tempo passado retorna em meio às voltas ao presente pelos trilhos da imaginação; já o tempo futuro brota com a construção do planejamento no porvir e à forma de pensar e agir encaixa-se no presente.
A emoção embrulhada em todos os pensamentos é uma palpitação do momento que faz os demais sentidos ter sentido no espaço e no tempo. Nas surpresas de cada acontecimento, o registro da existência faz com que, em toda ação o sangue siga pulsando nas veias, bombardeando o coração e fazendo o ser enxergar o reflexo da própria imagem no espelho. No desenrolar do semear cada letra para formar uma frase, a emoção registrada no latejo, dormir e acordar com o coração ligado sem parar envolto no dinamismo da agitação frenética, o alerta do despertar do dia, o nascimento das ideias, a ação da escrita, o lançamento da obra... Cada fase da preciosa vida em meio ao tempo, o constante movimento de um momento preso no tempo, à pulsação registrada pela imagem da visão, é a vida seguindo a sua trajetória.
Nesse exato momento as marchinhas de carnaval tocadas ao longo de vários carnavais, foram substituídas pelo rit que foi uma febre durante todos os dias da patuscada: “E a muriçoca / Soca, soca, soca, soca, soca, soca, soca / E a muriçoca / Pica, pica, pica, pica, pica, pica, pica / E a muriçoca / Soca, soca, soca, soca, soca, soca, soca / E a muriçoca / Pica, pica, pica, pica, pica, pica, pica / Eu quero dormir de noite, e não consegui dormir / Um zunido nos ouvidos, a muriçoca vem ai...” E o batidão continua. Talvez esta melodia não dure um tanto quanto as marchinhas. Todo ano é assim, no período festivo surgem essas músicas com letras de duplo sentido e não duram até a próxima festa carnavalesca.  
Os batuques da folia correram soltos nos paredões de som. Na abertura da folia na sexta-feira fiquei na rua prestigiando a festança até altas horas da madrugada. Na tarde do dia seguinte preferi ficar em casa brincando de juntar letras em palavras. Descartei o chamamento dos amigos feito pelo WhatsApp para cair na folia e resolvi se entreter com os vocábulos e descrever “o ritmo da batida do coração”, porque “escrever para mim é sobretudo um ato de descobrir a mim mesmo. Se tivesse que dar um único conselho para alguém, seria este: não se deixe intimidar pela opinião dos outros. Só a mediocridade é segura, por isso corra seus riscos e faça o que deseja”. E diante de tudo lembre-se caro leitor, depois da noite escura nasce um novo amanhecer.    

(*) JOSSELMO BATISTA NERES

E-mail: josselmo@hotmail.com

Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 03/03/2015 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).  Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica no endereço abaixo: