Domingo amanheceu com
um calor escaldante. Na sombra o termômetro marcava quarenta graus. Essa
temperatura não foi registrada apenas no domingo, mas durante uma boa parte do
ano. A esperança é que chegou o mês de novembro e no nordeste brasileiro é a
época em que dar sinal o característico inverno. A expectativa do nordestino
renasce quando começa cair os primeiros pingos de chuva no solo esturricado. “O
barreiro esta na lama e a roça está limpa, quase não tem mais água nem pastos
para os animais” Lamenta o sertanejo. Devido os efeitos da estiagem os animais
emagrecem e o criador não consegue desfazer do rebanho e quando consegue vender
é a preço de “banana” por estar tão magro. Mas não tem outra saída. “Não é de
ver os bichinhos morrer”. Reclama o fazendeiro.
Para
alegria dos viventes do torrão a chuva apontou na segunda-feira. Ninguém viu a
cor do sol nesse dia. São Pedro começou abrir as torneiras na antemanhã e se
prolongou por quase o dia inteiro. Ora as gotas caiam com intensidade, ora
afinava. Fazia tempo que não era visto uma chuva com tantos milímetros em um
único dia. Para quem estava diuturno acostumando com um calor insuportável, o
clima ficou agradabilíssimo. Uma verdadeira festa não só para os criadores que
labutam diariamente procurando a sobrevivência dos animais e nem para os
agricultores que necessitam da terra molhada para colocar em prática a arte do
ofício, mas para todos que vivem nas agruras esperando os pingos de água tombar
do firmamento para amenizar o sofrimento causado pelas consequências do verão.
As
dez da matina um cidadão magro de “cabelos e bigode de intensa alvura”, chapéu
de massa, calca brim, camisa de manga curta e sapatos de couro, estava sentado
em um estabelecimento fitando a chuva serena banhar as pessoas e os carros que
trafegavam na via movimentada de Picos. Um senhor de porte ereto, cabelos
grisalhos, calca jeans, camiseta (estilo polo) e de botas de vaqueiro se
aproximou: “Bom dia compadre Conrado, choveu lá em Sussuapara?” Prontamente o
ancião retrucou: “Bom dia Anastácio, choveu sim e foi água compadre, a chuva
começou às três da manhã, vim aqui na cidade resolver uns problemas, mas quando
sair de lá oito horas ficou chovendo”. Conrado interpelou: “Eu encontrei com o
Chico de Gabriel e ele disse que já veio hoje do Ipiranga e lá ficou chovendo.”
Anastácio indagou: “Parece que é geral, estava precisando mesmo compadre que a
seca estava grande, quem mais sofre são os animais”.
Após
despedirem-se com um gesto de aperto de mãos, Anastácio se distanciou e Conrado
continuou contemplando a paisagem proporcionada pela beleza das águas pluviais.
Quando as primeiras águas caem no torrão, à pluviosidade limpa a poeira das
estradas, lava a calha dos telhados, nascem às primeiras ramas, aviva o canto
dos pássaros, fortalece o berro do rebanho, altera a sensação térmica... Dar
vida a alma do ser. A água de chuva é uma dádiva que desaba do céu para germinar
a vida no solo endurecido, e tão logo pousa na terra as árvores retorcidas,
cinzentas e secas que pareciam estar mortas, começam a vigorar e o verde se
espalha pela vegetação da caatinga. Inicia-se um novo ciclo.
(*) JOSSELMO BATISTA NERES
E-mail:
josselmo@hotmail.com
Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 25/11/2014 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).
Pode também ser conferido na íntegra na Edição
Eletrônica no endereço abaixo: