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quinta-feira, 25 de junho de 2015

Escravo da esperança

 Em meio o sertão seco de chuva, numa casa típica de sertanejo, em um município do centro sul piauiense, mora um jovem poeta com o pseudônimo de Joaquim Precisado. Sabedor, modesta parte, que sou um amante das letras, logo que cheguei à sua residência, arrancou da gaveta de um velho móvel de madeira que ornava a sala de visita, um poema (sem título), rabiscado no verso da folha de uma conta de energia elétrica. Encantei com as entrelinhas do escrito, logo me ofereci para digitar a sua arte, que prontamente foi aceito. Prometi que na primeira oportunidade devolveria o original e, entregaria o datilografado pela moderna máquina de escrever. O poema diz o seguinte: “Escravo da esperança / Cordeiro do perdão / Vítima da tristeza / Parceiro da solidão. / As lágrimas são meu refúgio / As lembranças meu conforto / A saudade meu pesadelo / Não sei se estou vivo ou morto. / Atropelado pelas calunias / Na avenida da amargura / Nunca me queixo da sorte / Pois “quem não encontra a vida desencanta a morte”. / O amor é um sentimento universal / A paixão é uma transformação emocional / O amor fica / A paixão se vai”. Palavras com pura alma.

 O aprendiz de poeta Joaquim Precisado, canta o amor e o desamor preso nas entranhas amplificado do corpo, e faz uso do real para embasar o contexto da ficção. O poema no original não tem título, peço licença ao autor, e o batizo neste meu escrito com a epígrafe, “Escravo da Esperança”. As palavras no âmbito da composição são usadas pelo poeta, para suplantar as agruras presa na essência da alma, e assim, fazer das peripécias do coração, o marco da sua existência. Apegando-se ao aspecto do estilo temático, o redator escreveu o poema, com versos brancos e livres à sombra da melancolia, e imprime no entrelaçar da sutileza poética, toda a sentimentalidade presa no peito.
  Doutor da vivência, o nobre poeta, que faz versos equilibrados em meios aos desequilíbrios do torrão, a exemplo do que afirmou Euclides da Cunha, “o sertanejo é, antes de tudo um forte”, faz dos atalhos, a estrada, para continuar a jornada a procura do seu lugar ao sol. Mestre no plantio da lavoura do maracujá, eficiente no cuidar do criatório de aves, suínos e caprinos, dentre outros afazeres, no horário vago, escrever poemas e ainda se arisca em tocar alguns acordes. Com o violão debaixo do braço e usando apenas três acordes (lá com sétima, ré e sol), Joaquim Precisado embala o ritmo da música, “Vaca Estrela e Boi Fubá” de Patativa do Assaré, e canta: “Seu dotô me dê licença / Pra minha história eu contá / Se hoje eu estou em terra estranha / E é bem triste o meu pená / Mas eu já fui muito feliz / Vivendo no meu lugá. Eu tinha cavalo bão / Gostava de campiá e todo dia aboiava / Na porteira do currá.” E a cantoria continua com outras letras de musicas e outros acordes.
  Joaquim Precisado vive firme, em meio o labor, e envolto com os encantamentos da literatura. Com alma de artista, escreve versos para desoprimir das circunstâncias e continuar a construção da caminhada da vida.
Caro leitor, vejo que leu o escrito até o fim. Adivinho que fez esse esforço percorrendo cada linha do texto, procurando saber o nome completo, a cidade em que mora, ou o lugar onde nasceu o autor. Desculpe-me pelo desaponto. Obedecendo ao passo a passo ordeiro do compositor da bela arte, neste escrito, não fui autorizado retirar o artista do anonimato. Esta tarefa ficará para uma próxima demanda, caso eu for autorizado.   

(*) JOSSELMO BATISTA NERES 
                                                                                            E-mail: josselmo@hotmail.com
 

Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 25/06/2015 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).  Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica no endereço abaixo: