Em meio o
sertão seco de chuva, numa casa típica de sertanejo, em um município do centro
sul piauiense, mora um jovem poeta com o pseudônimo de Joaquim Precisado. Sabedor,
modesta parte, que sou um amante das letras, logo que cheguei à sua residência,
arrancou da gaveta de um velho móvel de madeira que ornava a sala de visita, um
poema (sem título), rabiscado no verso da folha de uma conta de energia
elétrica. Encantei com as entrelinhas do escrito, logo me ofereci para digitar
a sua arte, que prontamente foi aceito. Prometi que na primeira oportunidade
devolveria o original e, entregaria o datilografado pela moderna máquina de
escrever. O poema diz o seguinte: “Escravo da esperança / Cordeiro do perdão /
Vítima da tristeza / Parceiro da solidão. / As lágrimas são meu refúgio / As
lembranças meu conforto / A saudade meu pesadelo / Não sei se estou vivo ou
morto. / Atropelado pelas calunias / Na avenida da amargura / Nunca me queixo
da sorte / Pois “quem não encontra a vida desencanta a morte”. / O amor é um
sentimento universal / A paixão é uma transformação emocional / O amor fica / A
paixão se vai”. Palavras com pura alma.
O
aprendiz de poeta Joaquim Precisado, canta o amor e o desamor preso nas entranhas
amplificado do corpo, e faz uso do real para embasar o contexto da ficção. O
poema no original não tem título, peço licença ao autor, e o batizo neste meu
escrito com a epígrafe, “Escravo da Esperança”. As palavras no âmbito da
composição são usadas pelo poeta, para suplantar as agruras presa na essência
da alma, e assim, fazer das peripécias do coração, o marco da sua existência. Apegando-se
ao aspecto do estilo temático, o redator escreveu o poema, com versos brancos e
livres à sombra da melancolia, e imprime no entrelaçar da sutileza poética, toda
a sentimentalidade presa no peito.
Doutor da
vivência, o nobre poeta, que faz versos equilibrados em meios aos
desequilíbrios do torrão, a exemplo do que afirmou Euclides da Cunha, “o
sertanejo é, antes de tudo um forte”, faz dos atalhos, a estrada, para
continuar a jornada a procura do seu lugar ao sol. Mestre no plantio da lavoura
do maracujá, eficiente no cuidar do criatório de aves, suínos e caprinos,
dentre outros afazeres, no horário vago, escrever poemas e ainda se arisca em
tocar alguns acordes. Com o violão debaixo do braço e usando apenas três
acordes (lá com sétima, ré e sol), Joaquim Precisado embala o ritmo da música,
“Vaca Estrela e Boi Fubá” de Patativa do Assaré, e canta: “Seu dotô me dê
licença / Pra minha história eu contá / Se hoje eu estou em terra estranha / E
é bem triste o meu pená / Mas eu já fui muito feliz / Vivendo no meu lugá. Eu
tinha cavalo bão / Gostava de campiá e todo dia aboiava / Na porteira do currá.”
E a cantoria continua com outras letras de musicas e outros acordes.
Joaquim Precisado vive firme, em
meio o labor, e envolto com os encantamentos da literatura. Com alma de
artista, escreve versos para desoprimir das circunstâncias e continuar a construção
da caminhada da vida.
Caro leitor, vejo que leu o
escrito até o fim. Adivinho que fez esse esforço percorrendo cada linha do
texto, procurando saber o nome completo, a cidade em que mora, ou o lugar onde
nasceu o autor. Desculpe-me pelo desaponto. Obedecendo ao passo a passo ordeiro
do compositor da bela arte, neste escrito, não fui autorizado retirar o artista
do anonimato. Esta tarefa ficará para uma próxima demanda, caso eu for
autorizado.
(*) JOSSELMO BATISTA NERES
E-mail: josselmo@hotmail.comCrônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 25/06/2015 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso). Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica no endereço abaixo: