Cansado
da labuta nas terras da localidade Cercado, município de Picos, hoje Sussuapara,
as quais o solo estava enfraquecido para a lavoura, Luiz Leal de Moura Santos,
o Luiz Cândido, em julho de 1960 viajou para o Vale do Fidalgo para comprar uma
propriedade no lugar Canto da Volta, município de São José do Peixe, hoje São
Miguel do Fidalgo. Negócio fechado e data estipulada para a mudança. Minha avó
Joaquina retrucou, não queria sair de perto dos familiares e amigos para ir se
aventurar ao desconhecido, convencida pelo patriarca da família, em setembro do
mês ano colocaram os “cacos” em um pau de arara e seguiram rompendo o horizonte
escrevendo um novo capítulo da história. Todos os oito filhos do casal já eram
nascidos, a mais velha com quatorze anos e a mais nova com oito meses de idade.
Era um dia de domingo, meus avós
maternos e os oito filhos abandonaram o conforto da casa no Cercado para
desbravar uma terra distante onde não existia nenhum parente nem aderente. Na minha
visita imaginária ao passado vejo que, quando os novos moradores chegaram à
localidade, olharam o cenário em volta e sentiram-se uma imensa saudade, as
lembranças da vida que ficara para trás veio à tona. Os corações pulsaram
acelerados. Recuperados do impacto. O olhar do meu avô era de felicidade. O
semblante da minha avó estava entre uma alegria eufórica e o medo de enfrentar
os desafios da nova vida. A mudança causa estranheza a todos nós,
principalmente quando temos uma rotina definida e seguimos outra trilha a qual
não estamos acostumados.
Com um amor imensurável ao trato da terra, Luiz
Cândido cultivava “diumtudo”. No Cercado, tinha um quintal com plantio de coco,
banana, manga... Quando decidiu fazer a mudança para o lugar Canto da Volta,
vendeu a sua terra e casas que possui na cidade de Picos e seguiu o caminho
construindo a nova história. Chegando ao seu destino não viu uma árvore
frutífera na redondeza, perguntou a um morador da vizinhança por que na região
não se plantava pés de coco, maga, banana, laranjas, tangerinas, goiabas... Teve
como resposta: “é por que aqui nas terras não dá”. Mandou cavar um poço tubular
na propriedade e por sorte acertou bem na veia do lençol freático. Ficou
jorrando diuturno e para aproveitar a água que derramava, semeou uma variedade
de frutos e todos vingaram com qualidade, ai estava o porquê das terras não produzir
as frutas, ninguém plantava.
Meu avô era alto, magro, austero. Também
tinha o momento espirituoso. Fazia brincadeiras e contava causos da época da
sua juventude na região de Picos. Eu ficava admirando com as conversas. Em uma
das falas disse que – não fumou e não era de tomar bebida alcoólica, mas uma
vez por outra nas festas tomava uma talagada de vinho. As moças se derretiam
aos seus encantos. Não perdia um forró pé de serra nas imediações. Era um
verdadeiro pé de valsa. Mesmo depois que matrimoniou não deixou de frequentar
os forrós, até que um dia uma “figura” o abandonou no meio do salão ao observar a
aliança no dedo. Certamente a moça com segundas intenções notou que ele era
casado. Por capricho disse que daquele dia em diante não dançou mais nenhuma
festa. Fiel às raízes, quando passou a morar no Fidalgo, todos os anos voltava
a Picos para visitar os amigos e familiares.
(*) JOSSELMO BATISTA
NERES
E-mail: josselmo@hotmail.com
Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 20/09/2014 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).
Pode também ser conferido na íntegra na Edição
Eletrônica no endereço abaixo:
http://www.diariodopovo-pi.com.br/Jornal/Default.aspx
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