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sábado, 6 de setembro de 2014

O progresso bate à porta


            A vida bucólica de antes no campo só existe na memória. A vivência no interior desde pequeno, cercado pelo esplendor da vegetação e o modo original do homem da roça, fez-me lembrar a vida simples e arrojada com toda a opulência da significância dos tempos de outrora. No reduto da liberdade o sertanejo vive diuturno com os afazeres da labuta diária. Quando a noite chega à lamparina esta posta abastecida com o querosene e no ponto de acender o pavio para alumiar a casa noite adentro, até que todos se recolhem aos seus “ninhos” e durma tranquilamente. Uma vez por outra à lamparina fica acessa até o moleque que tem medo do escuro dormir. A noite segue silenciosa. Na madrugada o galo canta avisando que o dia vem raiando. O gado mungi no curral. As ovelhas berram no chiqueiro... Os pássaros cantarolam. Todos em alegria resplandecente pelo novo dia.
            A vida no campo pode ser difícil para alguns, no entanto, esta aliada ao ponto de vista e a maneira como vive o ser humano no torrão. Um tanto quanto, pode-se comparar a uns outros cidadãos que moram na cidade. Na zona rural cria-se a galinha, o porco, a ovelha, o bode, o boi... O plantio é suficiente para o sustento, e uma vez por outra sobra uma saca de grãos para vender, o que certamente é trocado na bodega pelo o que não é produzido na roça. A lenha que serve como combustão para cozinha os alimentos busca-se na chapada. Água para encher os potes da casa que vai servir para beber, cozinhar os alimentos, lavar a louça... Busca-se no poço em latas ou em cabaças trazidos nos ombros (na cabeça), ou no lombo de jumento. As brincadeiras das crianças interioranas é montar em talo de carnaúba e sair a galope dizendo que é um cavalo; fazer um cercado com uns tornos enfiados ao chão e coloca chifres de boi dentro e dizer que é gado (os chifres de boi menor era os bezerros); pega um pedaço de tábua, lada de óleo vazia, prego e chinelo no munturo e fabrica um automóvel... Esse é o retrato da vida simples e feliz no ambiente aos moldes originais.
            No interior tudo o que precisa (ou quase tudo) para a sobrevivência está em volta. A natureza permite ao camponês criar, plantar, cuidar e preserva o ambiente em que vive para em troca dar-lhes o meio da sobrevivência. Passado o tempo o progresso ronda os terreiros e o homem inconformado com a carência do poder público, entre outras a falta de estruturas para dar uma boa educação e certamente um futuro melhor para os filhos, resolve procurar a modernidade dos centros urbanos. O processo migratório ocorre naturalmente do campo para a cidade sem que esta tivesse estrutura para abrigar tamanho êxodo. O resultado é o aglomerado de casebre nas periferias das cidades, raras exceções.
            Os roncos dos motores e a agitação frenética da zona urbana trouxe a tona o choque de realidade. As zonas rurais perderam a identidade para dar lugar o advento do progresso. A lamparina deu lugar à energia elétrica com todas as parafernálias da tecnologia. A água que era colocada em potes na bilheira, agora esta em geladeira. A água carregada a distância para abastecer a residência, agora é só abrir a torneira... Os céticos e irredutíveis com as mudanças tiveram que se adaptar com a nova realidade. Saudades do meu interior.
       
            (*) JOSSELMO BATISTA NERES
E-mail: josselmo@hotmail.com


Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 25/08/2014 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).
Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica no endereço abaixo:

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