A
vida bucólica de antes no campo só existe na memória. A vivência no interior
desde pequeno, cercado pelo esplendor da vegetação e o modo original do homem
da roça, fez-me lembrar a vida simples e arrojada com toda a opulência da
significância dos tempos de outrora. No reduto da liberdade o sertanejo vive
diuturno com os afazeres da labuta diária. Quando a noite chega à lamparina
esta posta abastecida com o querosene e no ponto de acender o pavio para
alumiar a casa noite adentro, até que todos se recolhem aos seus “ninhos” e durma
tranquilamente. Uma vez por outra à lamparina fica acessa até o moleque que tem
medo do escuro dormir. A noite segue silenciosa. Na madrugada o galo canta
avisando que o dia vem raiando. O gado mungi no curral. As ovelhas berram no
chiqueiro... Os pássaros cantarolam. Todos em alegria resplandecente pelo novo
dia.
A
vida no campo pode ser difícil para alguns, no entanto, esta aliada ao ponto de
vista e a maneira como vive o ser humano no torrão. Um tanto quanto, pode-se
comparar a uns outros cidadãos que moram na cidade. Na zona rural cria-se a
galinha, o porco, a ovelha, o bode, o boi... O plantio é suficiente para o
sustento, e uma vez por outra sobra uma saca de grãos para vender, o que
certamente é trocado na bodega pelo o que não é produzido na roça. A lenha que
serve como combustão para cozinha os alimentos busca-se na chapada. Água para
encher os potes da casa que vai servir para beber, cozinhar os alimentos, lavar
a louça... Busca-se no poço em latas ou em cabaças trazidos nos ombros (na
cabeça), ou no lombo de jumento. As brincadeiras das crianças interioranas é
montar em talo de carnaúba e sair a galope dizendo que é um cavalo; fazer um
cercado com uns tornos enfiados ao chão e coloca chifres de boi dentro e dizer
que é gado (os chifres de boi menor era os bezerros); pega um pedaço de tábua,
lada de óleo vazia, prego e chinelo no munturo e fabrica um automóvel... Esse é
o retrato da vida simples e feliz no ambiente aos moldes originais.
No interior tudo o que precisa (ou
quase tudo) para a sobrevivência está em volta. A natureza permite ao camponês criar,
plantar, cuidar e preserva o ambiente em que vive para em troca dar-lhes o meio
da sobrevivência. Passado o tempo o progresso ronda os terreiros e o homem inconformado
com a carência do poder público, entre outras a falta de estruturas para dar
uma boa educação e certamente um futuro melhor para os filhos, resolve procurar
a modernidade dos centros urbanos. O processo migratório ocorre naturalmente do
campo para a cidade sem que esta tivesse estrutura para abrigar tamanho êxodo. O
resultado é o aglomerado de casebre nas periferias das cidades, raras exceções.
Os roncos dos motores e a agitação
frenética da zona urbana trouxe a tona o choque de realidade. As zonas rurais perderam
a identidade para dar lugar o advento do progresso. A lamparina deu lugar à
energia elétrica com todas as parafernálias da tecnologia. A água que era
colocada em potes na bilheira, agora esta em geladeira. A água
carregada a distância para abastecer a residência, agora é só abrir a torneira...
Os céticos e irredutíveis com as mudanças tiveram que se adaptar com a nova
realidade. Saudades do meu interior.
(*) JOSSELMO BATISTA
NERES
E-mail: josselmo@hotmail.com
Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 25/08/2014 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).
Pode também ser conferido na íntegra na Edição
Eletrônica no endereço abaixo:
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