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quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Meio verdade, meio mentira



              Antes que me acusem de ouvir por trás da porta, de intrometido, curioso, vou logo avisando: não sou nenhuma coisa nem outra, apenas presto atenção no mundo a minha volta. Explico: Eu estava sentado na poltrona de um estabelecimento quando uma senhora que aparentava ter em média cinquenta anos de idade chega e se fixa em um assento próximo a mim. Passados alguns minutos, apareceu outra senhora que deveria ter em média uns cinquenta e cinco anos e, quando viu a senhora ali no encosto dirigiu-se a ela e falou: bom dia comadre Anastácia. A outra senhora retrucou: bom dia comadre Amélia. As duas mulheres ficaram agasalhadas na mesma poltrona, próxima a que eu estava e travaram o seguinte diálogo:
            - Comadre Amélia estou indo para a capital nesse final de semana, para agendar umas consultas médicas na segunda-feira, Sophia acordou a meia noite se vendo de dor e tive que levar ela para o hospital, foi medicada e voltamos para casa, mas o médico disse que o caso da minha filha é de cirurgia. Explana Anastácia.
            - Mas o que foi comadre, Sophia estava se queixando de alguma dor? Vi ela ontem no trabalho e parecia que estava bem de saúde. Interpelou Amélia.
            - Ela não estava se queixando de dor nenhuma comadre, foi de repente, o especialista falou que pelos sintomas é cálculo renal. Finalizou a genitora. 
            - É pedra no rim, comadre. Afirma Amélia.
- O próximo... O atendente do estabelecimento chama a senha do atendimento da Dona Anastácia.
A mãe da moça se dirigiu a mesa que seria recepcionada e a Dona Amélia continuou no assento. Liberada pelo atendente, Dona Anastácia se despede de Dona Amélia que ainda fica no sofá estofado até ser chamada pelo funcionário da instituição para resolver a sua demanda.
            Como não pude deixar de ouvir, meus caros leitores, os diálogos serviram como embasamento para o nascimento desse ensaio. Mas não fiquem apreensivos, esse episódio já faz alguns meses, creio que Sophia deve ter passado pelos procedimentos cirúrgico e já se recuperou dos efeitos do bisturi. Imagino que foi apenas um pequeno susto e, como diz o ditado: já está pronta pra outra. Digo: pronta para seguir normalmente com as suas obrigações cotidianas.
            O enredo explorado pela faculdade representativa dos pensamentos para a construção dessa história, meus amados telespectadores, é um grão no contexto transparente da ficção. A transcrição dos exprimes evoca uma verdade e uma mentira. Talvez mais mentira que verdade, ou mais verdade que mentira, ou meio verdade, meio mentira? O desenredar desse dilema ficará por conta da criação imaginaria de cada leitor. Só posso dizer uma coisa: siga com atenção a sequência dos acontecimentos, mantenha o senso apurado e, construa a sua própria maneira de ver tudo que existe no plano universal.

                                                                                                                                                                                                                                                    Josselmo Batista Neres
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Crônica publicada no JORNAL DIÁRIO DO POVO DO PIAUÍ em 17/11/2016 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso). 

Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica no endereço abaixo: 
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