A
liberdade dos povos antepassados estava além dos limites das cercas de pedras.
Na dura caminhada os cidadãos deixaram os rincões e foram ao encontro da modernidade.
Despovoaram as casas de taipa no centro dos cercados de blocos de pedras
empilhadas um sobre o outro e desceram do “pé de serra” pelas veredas até
chegar ao asfalto da civilização. Trocaram a vida pacata do roçado em que
moravam em casas de pau a pique cercadas por grandes extensões de cercas monumentais
para viverem na cidade preso em casebres cercados por cercas elétricas e
vigiado vinte e quatro horas pelos olhos das câmeras de segurança espalhadas por
todas as esquinas. O homem e a mulher do tempo presente vivem encarcerados por
grandes estruturas de ferro e cimento e ao entorno de todos os pormenores que o
progresso a impõe. A emancipação da vivência rústica veio de encontro à falta
de segurança vivida pelas pessoas de bem, e diante do novo quadro, moram enchiqueiradas
pelas muralharas antissocial.
O
homem quase que por completo abandonou a engenharia das construções das cercas
de pedras e passou a rodear os quintais com arame farpado, estacas de madeiras
e ou de concreto. As cercas de outrora ficaram obsoletas no arrastar das
centenas de anos e entra para a história (pelo menos na escrita deste que vos
escreve), como patrimônio histórico, sociocultural e econômica do povo
brasileiro. Os blocos de pedras colocados um sobre o outro formando uma parede,
no momento em pulsação contam a história da ocupação do homem no limiar do território
em uma época primitiva. Construídas compulsoriamente com o suor e lágrimas, as
esculturas monumentais, é um testemunho vivo do desbravamento dos moradores do
torrão e expressa a história dos ancestrais fundadores de fazendas, freguesias
e cidades. Cada pedra ali colocada uma a uma, alinhadas é um registro permanente
do legado deixado pelos ascendentes. As cercas são uma verdadeira obra de arte.
Monumentos da Nação.
A
moradia interiorana em que viva os cidadãos entre os cercados de pedras aos
poucos foram sendo desabitadas em prol das arquiteturas modernas do “mundo civilizado”.
As engenhosas esculturas rudimentares com o tempo foram sendo surrupiadas para
serem utilizadas como matéria prima nas construções civis. A emigração
tornou-se um fato e as periferias dos centros urbanos passaram a ser uma problemática
pela falta de estrutura para abrigar os retirantes. Com a modernização e evolução
da civilização, a literatura encarregou-se em transformar o semear dos ditos das
cercas de pedras em um emaranhado de palavras, com o sentido de alcançar, um
tanto quanto, a mesma durabilidade das pedras fincadas nas cercas e levar a se
arrastarem na eternidade. Só as letras enfileiradas em registro, como as pedras
nas cercas, poderão alcançar tamanha façanha.
(*) JOSSELMO BATISTA NERES
E-mail:
josselmo@hotmail.com
Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 20/01/2015 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).
Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica
no endereço abaixo:
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