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terça-feira, 6 de janeiro de 2015

A carta



Não chego a ser um colecionador, no entanto, quando vejo um objeto antigo, principalmente com os jogado ao acaso, aproximo dele quase que espontaneamente para buscar o seu valor, a importância que teve em outrora e o significado que este representa no tempo presente. Em uma das visitas à casa do meu avô materno na localidade Canto da Volta, observei alguns cacarecos espalhados ao léu. Toda vez que vou à casa construída pelo meu avô, fico admirando a estrutura do monumento arquitetônico, por fora e por dentro. A última vez que fui ao seu encontro a olhei em todo o seu entorno como se estivesse procurando uma agulha no palheiro. O que eu estava procurando? Nada. Aliás, tudo. Não sei, acho que só para matar a saudade das algazarras ali dos tempos de então e a ânsia da curiosidade. Com um olhar afiado, vi no quintal um amontoado de coisas atirado ao conto do cercado e entre um troço e outra encontrei um caderno que em meio a algumas poucas folhas amareladas, deparei-me com uma Carta. Isso mesmo caro leitor, uma Carta escrita à tinta de caneta com os ditos do meu avô, que, os quais transcrevo com todas as palavras e da mesma forma que foi estampado:
“Canto da Volta, 31 de 07 de 1985
 Francisco,
O fim desta é lhe dizer que aqui esta tudo com saúde graças a Deus e ao mesmo tempo lhe dizer que uma casa que tem ai para vender que a Dona esta pedindo CR$ 2.300.000,00 (dois milhão e trezentos cruzeiros), se você achar que é um negócio de futuro eu vou comprar, precisa você mandar dizer as condições, se causo o negócio der certo você me escreva o mais breve possível que eu irei na semana vindoura ou na outra semana, agora só posso ir se for um negócio certo, estou muito aperreado com serviço.
Sem mais só lembrança de todos de casa.
Ass: (abreviatura que quer dizer Assina) Luis Leal de Moura Santos.”
Não sei se o teor dessa correspondência chegou ao seu destino. Se chegou, esta provavelmente seja um rascunho da enviada. Quando encontrei o documento, a mesma estava entre às folhas do caderno, avulsa, solta e sem estar dentro de envelope de postagem. O personagem Francisco, é o filho que morava em Teresina. Canto da Volta é o lugar da propriedade do meu avô e que na época fazia parte do município de São José do Peixe, hoje pertence ao município de São Miguel do Fidalgo.
Sou um mero apreciador de objetos, digamos assim “velhos”. Eu tenho no meu escritório uma bancada com alguns tipos de raridades. Pelo menos, caro leitor, assim o considero. Nas prateleiras de um móvel encomendado para esse fim, tenho um Ferro de Passar Roupas, tipo aqueles que colocavam brasas acessa no seu interior para aquecer o eletrodoméstico. Uma Panela de Ferro. Uma Aratraca (armadilha feita de ferro para capturar felinos de grande porte). Um Cadeado robusto, que pelo formato deve ter alguns janeiros. Uma Vitrola e vários Discos de Vinil nos formatos grande e pequeno. Cédulas de Dinheiro de várias épocas e Moedas idem... Algumas dessas relíquias foram doações. Já a Carta é uma peça em particular. Quando a encontrei levei comigo, não pelo o seu teor, mas pelo o significado e o valor que ela representa no transcurso do tempo.

(*) JOSSELMO BATISTA NERES
E-mail: josselmo@hotmail.com

    

Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 04/01/2015 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).

Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica no endereço abaixo:

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