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segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Cerca de pedra I

Presas na solidez do tempo, as cercas de pedras representa a expressão histórica de uma época. Autênticas esculturas. Engenharia primitiva elaborada pela criatividade dos senhores que desenhava o projeto da construção dos cercados ao redor das fazendas e a execução ficava a cargo do suor do trabalho compulsório dos escravos. Há centenas de anos, muitas cercas de pedras, que considero como um “monumento à herança das almas antepassadas” estão embrenhadas nos cafundós das chapadas e pouco se dar o valor necessário da grandiosidade dos princípios matemáticos empregados para elevar as muralhas. O enfileiramento de pedra é feita com a utilização de recursos naturais, colocando uma pedra em cima da outra, de forma manual, sem água, cimento, areia ou qualquer outro tipo de matéria prima, e construída sem agredir ao meio ambiente e obedecendo todas as discussões do desenvolvimento sustentável. Os monumentos históricos é um tipo de edificação permanente que ultrapassa os limites dos tempos. A pulsação constante “não corrói, e se porventura a estrutura vier a cair, o material de reconstrução permanecerá no local”. São poucas as ações do homem que oferece a durabilidade eterna e as vantagens oferecidas nos transcursos da vida.  
Cada pedra de uma cerca é uma página da história que eterniza a vida dos antepassados que viveram no torrão. Os paredões de pedregulhos estabeleceram os limites do progresso econômico e a história de cada região ali fincada. Quando observo as centenárias cercas abandonadas e expostas ao desmancho para a utilização das suas pedras em alicerces e em outras obras da construção civil, é com um pesar que vejo o destino do patrimônio que faz parte da nossa cultura ser destruída de tal forma. O pior é ter que conviver com os descasos das cercas que deveriam ser preservadas e ainda testemunhar a brutalidade cometida pelo ser humano. Ver as criações humanas que conta a nossa história desaparecerem ao sabor do vento é no mínimo um infortúnio. Alguns proprietários de lotes de terras, os quais, são cortadas pelos monumentos, usa como discurso para justificar a desconstrução da história, a conversa fiada que as fundações rudimentares atraem alguns tipos peçonhentos.    
As cercas devem ser reconhecidas como uma verdadeira obra de arte, fazer parte do patrimônio histórico, cultural e turístico brasileiro e os construtores tombados pelos institutos socioculturais como verdadeiros artistas. É uma parte inestimável da expressão do progresso escrito pelos ancestrais através do empilhamento dos corpos duros retirados da natureza. Com o passar dos anos os moradores do torrão desceram dos entornos das chapadas pelas veredas, (êxodo como chamamos o processo migratório dos novos tempos), para reescreverem uma nova jornada na solidez do chão e darem os primeiros passos para as gerações vindouras continuarem a caminhada pelas vias asfaltos da história. O tempo é dinâmico.  

                                                           (*) JOSSELMO BATISTA NERES                                                                                            E-mail: josselmo@hotmail.com

 Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 12/01/2015 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).

Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica no endereço abaixo:

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