Presas
na solidez do tempo, as cercas de pedras representa a expressão histórica de
uma época. Autênticas esculturas. Engenharia primitiva elaborada pela
criatividade dos senhores que desenhava o projeto da construção dos cercados ao
redor das fazendas e a execução ficava a cargo do suor do trabalho compulsório
dos escravos. Há centenas de anos, muitas cercas de pedras, que considero como
um “monumento à herança das almas antepassadas” estão embrenhadas nos cafundós
das chapadas e pouco se dar o valor necessário da grandiosidade dos princípios
matemáticos empregados para elevar as muralhas. O enfileiramento de pedra é feita
com a utilização de recursos naturais, colocando uma pedra em cima da outra, de
forma manual, sem água, cimento, areia ou qualquer outro tipo de matéria prima,
e construída sem agredir ao meio ambiente e obedecendo todas as discussões do desenvolvimento
sustentável. Os monumentos históricos é um tipo de edificação permanente que
ultrapassa os limites dos tempos. A pulsação constante “não corrói, e se
porventura a estrutura vier a cair, o material de reconstrução permanecerá no
local”. São poucas as ações do homem que oferece a durabilidade eterna e as
vantagens oferecidas nos transcursos da vida.
Cada
pedra de uma cerca é uma página da história que eterniza a vida dos
antepassados que viveram no torrão. Os paredões de pedregulhos estabeleceram os
limites do progresso econômico e a história de cada região ali fincada. Quando observo
as centenárias cercas abandonadas e expostas ao desmancho para a utilização das
suas pedras em alicerces e em outras obras da construção civil, é com um pesar
que vejo o destino do patrimônio que faz parte da nossa cultura ser destruída de
tal forma. O pior é ter que conviver com os descasos das cercas que deveriam
ser preservadas e ainda testemunhar a brutalidade cometida pelo ser humano. Ver
as criações humanas que conta a nossa história desaparecerem ao sabor do vento
é no mínimo um infortúnio. Alguns proprietários de lotes de terras, os quais,
são cortadas pelos monumentos, usa como discurso para justificar a
desconstrução da história, a conversa fiada que as fundações rudimentares atraem
alguns tipos peçonhentos.
As
cercas devem ser reconhecidas como uma verdadeira obra de arte, fazer parte do
patrimônio histórico, cultural e turístico brasileiro e os construtores tombados
pelos institutos socioculturais como verdadeiros artistas. É uma parte
inestimável da expressão do progresso escrito pelos ancestrais através do
empilhamento dos corpos duros retirados da natureza. Com o passar dos anos os
moradores do torrão desceram dos entornos das chapadas pelas veredas, (êxodo
como chamamos o processo migratório dos novos tempos), para reescreverem uma
nova jornada na solidez do chão e darem os primeiros passos para as gerações vindouras
continuarem a caminhada pelas vias asfaltos da história. O tempo é dinâmico.
Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 12/01/2015 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).
Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica
no endereço abaixo:
Nenhum comentário:
Postar um comentário