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quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Paraíso perdido

          Os riachos, a lagoa, os poços de água quente, a forma exuberante dos morros, a cultura regional e tudo o mais posto no seio do lugar são patrimônios cravados no coração do fidalgo. Perdido no meio do sertão piauiense, Banco de Área, outrora um povoado, transformou-se na cidade de São Miguel do Fidalgo. O bucolismo remoto espalhados em cada canto do imenso território transmutou-se com a agitação guiada pelo impulso do desenvolvimento. A calmaria do éden situado à beira da lagoa de águas cristalinas permutou com a euforia dos roncos dos motores. O progresso chegou e a magia de até então, foi levado pelas manobras das benfeitorias emplacadas pelo processo da evolução espontânea. A simplicidade campestre transformou-se na modernidade dos centros.
As estradas estreitas de terras com barrancos de área de um lado e de outro do percurso em alguns trechos, dificultava o tráfego, e juntamente com as poças de lama causavam muitos atoleiros nos veículos. Nada que ofuscasse o brio do paraíso. As trilhas eram uma grande aventura para os visitantes, e que os levavam, ao portento das belezas plantadas no coração do sertão. Logo as estradas vicinais deu lugar às vias asfálticas e encurtou os caminhos e apressou o movimento do vai e vem dos automóveis. Linda um tanto quanto, dentre aos patrimônios, a Lagoa do Fidalgo é um oceano de águas azuis, “um mar no meio do sertão, / espelho do céu em noites estreladas”, balneário de ponta a ponta, um verdadeiro monumento da natureza. O paraíso continua ileso, no entanto, o aceleramento da progressão, tornou-se a vida mansa em que levava o sertanejo no campo mais frenético. A paciência do pescador que passava horas e horas parado no meio da lagoa, dentro de uma canoa e em completo silêncio com a vara de pescar na mão esperando o peixe beliscar a isca e o caçador que saia com a capanga cheia de pedras (já catadas antes, para servir de munição) e com a baladeira na mão adentrando mata adentro e pisando macio para não espantar as presas, essas virtudes quase já não existem.  
Casebres de chão batido, água barrenta nos potes, panelas em trempe, noites escuras clareadas com velas a querosene, labuta com os animais (gado, ovelhas, cavalo, jumento...) e a lavoura na roça... Um tudo o quanto no que é visto no panorama da vida interiorana, evoluiu-se para tudo que há de mais moderno, e o moderno com o passar foi se modernizando. Essa é a lei. O paraíso perdido do fidalgo arraigado no bucolismo do meio do sertão aos poucos foi progredindo pelas vias do sistema natural. A metamorfose almejada no inconsciente do sertanejo faz jus ao ditado que diz: “cuidado com o que você deseja, o seu desejo pode-se realizar”. O novo manou para o bem de todos. Nada tira o brilho do encanto, no encanto de toda a beleza espalhada pela imensidão do torrão. 
A venustidade cravada na terra castigada pela seca é uma providência de Deus. O sossego transmitido pela paisagem em meio ao enraizamento do complexo turística inspira a paz e a tranquilidade. O paraíso perdido aos poucos foi sendo revelado, todavia, não tanto como ele é, mas tudo como antes, continua intacto na memoria do “menino que ainda existe”. Conheça o vale do fidalgo.

                         (*) JOSSELMO BATISTA NERES é funcionário do Banco do Brasil
E-mail: josselmo@hotmail.com
 Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 09/11/2014 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).

Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica no endereço abaixo:

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