Os
riachos, a lagoa, os poços de água quente, a forma exuberante dos morros, a
cultura regional e tudo o mais posto no seio do lugar são patrimônios cravados
no coração do fidalgo. Perdido no meio do sertão piauiense, Banco de Área,
outrora um povoado, transformou-se na cidade de São Miguel do Fidalgo. O
bucolismo remoto espalhados em cada canto do imenso território transmutou-se
com a agitação guiada pelo impulso do desenvolvimento. A calmaria do éden
situado à beira da lagoa de águas cristalinas permutou com a euforia dos roncos
dos motores. O progresso chegou e a magia de até então, foi levado pelas
manobras das benfeitorias emplacadas pelo processo da evolução espontânea. A
simplicidade campestre transformou-se na modernidade dos centros.
As
estradas estreitas de terras com barrancos de área de um lado e de outro do
percurso em alguns trechos, dificultava o tráfego, e juntamente com as poças de
lama causavam muitos atoleiros nos veículos. Nada que ofuscasse o brio do
paraíso. As trilhas eram uma grande aventura para os visitantes, e que os
levavam, ao portento das belezas plantadas no coração do sertão. Logo as
estradas vicinais deu lugar às vias asfálticas e encurtou os caminhos e
apressou o movimento do vai e vem dos automóveis. Linda um tanto quanto, dentre
aos patrimônios, a Lagoa do Fidalgo é um oceano de águas azuis, “um mar no meio do sertão, / espelho do céu
em noites estreladas”, balneário de ponta a ponta, um verdadeiro monumento
da natureza. O paraíso continua ileso, no entanto, o aceleramento da
progressão, tornou-se a vida mansa em que levava o sertanejo no campo mais
frenético. A paciência do pescador que passava horas e horas parado no meio da
lagoa, dentro de uma canoa e em completo silêncio com a vara de pescar na mão
esperando o peixe beliscar a isca e o caçador que saia com a capanga cheia de
pedras (já catadas antes, para servir de munição) e com a baladeira na mão adentrando
mata adentro e pisando macio para não espantar as presas, essas virtudes quase
já não existem.
Casebres
de chão batido, água barrenta nos potes, panelas em trempe, noites escuras
clareadas com velas a querosene, labuta com os animais (gado, ovelhas, cavalo,
jumento...) e a lavoura na roça... Um tudo o quanto no que é visto no panorama
da vida interiorana, evoluiu-se para tudo que há de mais moderno, e o moderno
com o passar foi se modernizando. Essa é a lei. O paraíso perdido do fidalgo
arraigado no bucolismo do meio do sertão aos poucos foi progredindo pelas vias
do sistema natural. A metamorfose almejada no inconsciente do sertanejo faz jus
ao ditado que diz: “cuidado com o que você deseja, o seu desejo pode-se
realizar”. O novo manou para o bem de todos. Nada tira o brilho do encanto, no
encanto de toda a beleza espalhada pela imensidão do torrão.
A
venustidade cravada na terra castigada pela seca é uma providência de Deus. O
sossego transmitido pela paisagem em meio ao enraizamento do complexo turística
inspira a paz e a tranquilidade. O paraíso perdido aos poucos foi sendo
revelado, todavia, não tanto como ele é, mas tudo como antes, continua intacto
na memoria do “menino que ainda existe”. Conheça o vale do fidalgo.
(*) JOSSELMO BATISTA NERES é funcionário
do Banco do Brasil
E-mail:
josselmo@hotmail.com
Crônica publicada no Jornal Diário do
Povo do Piauí em 09/11/2014 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).
Pode também ser conferido na íntegra na Edição
Eletrônica no endereço abaixo:
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