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sábado, 11 de janeiro de 2014

Quando a chuva cai no sertão...

                Terça-feira o sol quase não pareceu. Passou o dia chovendo. Uma chuva fina e serena que transformou o calor escaldante em um clima agradável. Coisa difícil de ver em meio o sertão. A imagem da vegetação seca, cinzenta e retorcida vista na maior parte do ano, com as primeiras chuvas o que parecia esta morta, ressurgem com a rapidez só fogo em pólvora dando lugar ao verde. As sementes das jitiranas, dos mata-pastos, das malvas brancas entre outros, são semeadas no fim das águas pelo vento e pelos pássaros no solo seco e quando volta a chover brotam da terra formando um ‘canteiro verde’ onde antes só via a terra limpa.  
               Quando a chuva vem à paisagem renasce. A jitirana que é da família das Convolvulaceaes do tipo trepadeira, é uma das plantas que tem grande destaque por ser de rápido crescimento, espalha-se ligeiramente pelo chão e se enrosca aos troncos das vegetações e cercas, servindo como um dos primeiros alimentos dos animais nas primeiras águas. Os arbustos do marmeleiro, mufumbo, pau-de-rato conhecido também como catingueiro, jurema... Assim como outros tipos de vegetação que durante toda a estiagem não se encontra uma folha verde para fazer ‘remédio’, logo às primeiras chuvas caem na caatinga à vida volta aos galhos secos no que pareciam estar morto, renascendo como a fênix.
                A falta de chuva e de um clima amena afeta os seres vivos em geral. O sertão quase o ano inteiro é tragado pelo insuportável calor, onde nem os eletrodomésticos dão conta de abafar o vapor escaldante – o umidificador de ar não faz nem cosquinha mediante a tamanha sensação térmica, o ventilador em muitas das vezes o sopro do vento mais parece o vapor de um secador de cabelo e a central de ar e/ou ar condicionado nem todas as pessoas podem ter esse bem, com exceções a uns poucos, quando tem o desejado aparelho elétrico não podem adentrar noites adentro com o objeto funcionando, o pagamento da conta de energia vai fazer falta na compra do feijão... 
                No ano de estiagem prolongada o sofrimento do sertanejo é lamentável. Os açudes e as lagoas secam e o solo fica sereno de rachões. Ao ser lançado os primeiros pingos de chuva do alto das nuvens no torrão o sertão fica em festa. Quando o tempo ‘fecha’ e ensaia desfiar as gotas das nuvens, o menino em alvoroço grita: “Mamãe me deixa banhar na chuva”. O homem do campo no alpendre da casa olha ao redor procurando a nascente da chuva e profetiza: “A chuva é geral” e planeja em pegar os bois e preparar o arado para lavrar a terra para o plantio – “vou ‘aradar’ as terras lá da roça de baixo para plantar milho e feijão”.
                Os bichos brutos é quem mais sofre com os efeitos da seca. Como todos os outros animais, o gado vive com quase sem água para beber e com pouca pastagem. Quando São Pedro abre as torneiras no sertão o boi munge com vigor. Os pássaros voltam a pular de árvore em árvore cantarolando e o sertanejo que cria algum rebanho resmunga: “Nas primeiras ramas, vou soltar o gado na chapada, para dar uma folga na roça e criar pasto.” Viva o sertão. 

(*)JOSSELMO BATISTA NERES é funcionário do Banco do Brasil
E-mail: josselmo@hotmail.com
 
 
Crônica/Artigo publicado no Jornal Diário do Povo do Piauí – QUANDO A CHUVA CAI NO SERTÃO... – em 10/01/2014 na página 02 Opinião (Jornal Impresso).

Pode também ser conferida na Edição Eletrônica endereço abaixo:
http://www.diariodopovo-pi.com.br/Jornal/Default.aspx

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