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sexta-feira, 6 de março de 2015

Passado e futuro sempre presente

O passado e o futuro andam sempre presente. A festa acabou, mas os restos do carnaval continuam. Trancafiado na minha escrivaninha, ouço o som das marchinhas de carnaval que se perpetuaram ao longo das festas do rei momo e no exato instante fiquei a pensar: Como falar do tempo vivendo dentro do próprio tempo? Para uns o tempo se encarrega em construir no compasso de cada passada o desígnio, para outros o destino de cada pessoa dentro do tempo já nasce delineado. O que importa? Elegendo um conceito ou outro o certo é que o tempo é o senhor do destino. Com o tempo, no momento inerente, o próprio momento dentro do momento vai mostrando a sua verdadeira face e com o andar da carruagem “as melancias vão se agasalhando”. Existe o tempo passado, o tempo presente e o tempo futuro. O tempo presente é a fase em andamento, o hoje, o agora; o tempo passado retorna em meio às voltas ao presente pelos trilhos da imaginação; já o tempo futuro brota com a construção do planejamento no porvir e à forma de pensar e agir encaixa-se no presente.
A emoção embrulhada em todos os pensamentos é uma palpitação do momento que faz os demais sentidos ter sentido no espaço e no tempo. Nas surpresas de cada acontecimento, o registro da existência faz com que, em toda ação o sangue siga pulsando nas veias, bombardeando o coração e fazendo o ser enxergar o reflexo da própria imagem no espelho. No desenrolar do semear cada letra para formar uma frase, a emoção registrada no latejo, dormir e acordar com o coração ligado sem parar envolto no dinamismo da agitação frenética, o alerta do despertar do dia, o nascimento das ideias, a ação da escrita, o lançamento da obra... Cada fase da preciosa vida em meio ao tempo, o constante movimento de um momento preso no tempo, à pulsação registrada pela imagem da visão, é a vida seguindo a sua trajetória.
Nesse exato momento as marchinhas de carnaval tocadas ao longo de vários carnavais, foram substituídas pelo rit que foi uma febre durante todos os dias da patuscada: “E a muriçoca / Soca, soca, soca, soca, soca, soca, soca / E a muriçoca / Pica, pica, pica, pica, pica, pica, pica / E a muriçoca / Soca, soca, soca, soca, soca, soca, soca / E a muriçoca / Pica, pica, pica, pica, pica, pica, pica / Eu quero dormir de noite, e não consegui dormir / Um zunido nos ouvidos, a muriçoca vem ai...” E o batidão continua. Talvez esta melodia não dure um tanto quanto as marchinhas. Todo ano é assim, no período festivo surgem essas músicas com letras de duplo sentido e não duram até a próxima festa carnavalesca.  
Os batuques da folia correram soltos nos paredões de som. Na abertura da folia na sexta-feira fiquei na rua prestigiando a festança até altas horas da madrugada. Na tarde do dia seguinte preferi ficar em casa brincando de juntar letras em palavras. Descartei o chamamento dos amigos feito pelo WhatsApp para cair na folia e resolvi se entreter com os vocábulos e descrever “o ritmo da batida do coração”, porque “escrever para mim é sobretudo um ato de descobrir a mim mesmo. Se tivesse que dar um único conselho para alguém, seria este: não se deixe intimidar pela opinião dos outros. Só a mediocridade é segura, por isso corra seus riscos e faça o que deseja”. E diante de tudo lembre-se caro leitor, depois da noite escura nasce um novo amanhecer.    

(*) JOSSELMO BATISTA NERES

E-mail: josselmo@hotmail.com

Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 03/03/2015 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).  Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica no endereço abaixo: 

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