Romance,
conto, crônica, poesia... Enfim, não importa o gênero, a temática, o estilo.
Todas as palavras agasalhadas nos vocábulos trazem nas entrelinhas o poder
evolvente do marco da existência, trazem o que o literato deveras vive. Será?
Não tenho procuração para tal. Escritores. Quem sabe lá o que se passa nas
brilhantes cacholas. O que posso afirmar é que falar sobre você mesmo é uma
tarefa cansativa e enfadonha. Muito difícil. Entretanto, no labor, não como um
tanto quanto Paulo Leminski, “Escrevo. E pronto. / Escrevo porque preciso / preciso
porque estou tonto. / Ninguém tem nada com isso. / Escrevo porque amanhece. / E
as estrelas lá no céu / Lembram letras no papel, / Quando o poema me anoitece.
/ A aranha tece teias. / O peixe beija e morde o que vê. / Eu escrevo apenas. /
Tem que ter por quê?” Falo por mim. Alguma indagação? Enquanto não sou
inquirido, dirijo-me a você, a você mesmo caro leitor, que estar em silêncio a
balbuciar esses amontoados de palavras, vos digo, estás a discorrer sobre o
encanto do feitiço em que se encontra o redator. Sem objetivar a importância
que o público vá considerar, nem a atenção que os críticos vão lançar. Nada
importa o que pensam do escrito. As palavras imperativas (por vezes e em muitas
e muitas vezes) são usadas para preencher a necessidade imposta pela alma da
própria alma. Pelo menos assim eu acredito que as asas vos envolvem. Leminski no
poema “Razão de ser” expressa o sentimento de o ato escrever com maestria.
Em “Cartas a um Jovem Poeta”, Rilke fala ao
aprendiz do ofício, o árduo jogo de misturar letras em palavras, às quais, “ninguém
o pode aconselhar ou ajudar, - ninguém. Só existe um caminho: penetre em si
mesmo e procure a necessidade que o faz escrever. Observe se esta necessidade
tem raízes nas profundezas do seu coração e de sua alma. Confesse a si mesmo:
morreria, se lhe fosse vedado a escrever? Isto acima de tudo: Pergunte a si
mesmo na hora mais tranquila de sua noite: ‘Sou mesmo forçado a escrever?’ Escave
dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar
àquela pergunta severa por um forte e simples ‘sou’, então construa a sua vida
de acordo com esta necessidade”. Bonito
de se ler, lindo de se ouvir. Perfeitas palavras. Aplausos para o poeta alemão
que lança aos amantes da arte a beleza refulgente, e os fazem enxergar de outra
forma a premência que está dentro de si incomodando, e que chega a ser como uma
gravidez, que, enquanto os vocábulos não nascem o corpo fica se retorcendo. Alguém
ai mim entente?
As palavras
nascem no despertar da necessidade da alma. Juntar letras e esculpir um texto seguindo
uma sequência logica é uma tarefa que exige dedicação e coordenação para o pleito.
É uma lida espinhosa que o autor chega a sofre antes, durante e depois. O
coração fica saltitando pela necessidade que existe de ser posto ao mundo e que
até então estar preso ao peito e quase já explodindo para serem lançadas a
eternidade. As palavras fluem pela pura e simples conveniência da alma. Embaralhar
letras, formar frases, imprimir o reflexo dos pensamentos... Dar som e imagens.
É expor os sentimentos que nos move. Não importa a forma nem a estrutura, o compositor
usa as palavras como uma terapia, para expor as agruras, o que às vezes, tende
a usar a “ficção de mentiras” para contar o real e, no entanto, marcar o seu
lugar na existência. Chega, não vou ater em pontificar. Não tem um por quê. Escrevo.
E pronto.
(*) JOSSELMO BATISTA NERES
E-mail:
josselmo@hotmail.com
Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em O2/12/2014 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).
Pode também ser conferido na íntegra na Edição
Eletrônica no endereço abaixo:
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