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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Geléia geral ( II )


                  (*)JOSSELMO BATISTA NERES                                        
           
               Torquato defendeu com veemência as convulsões políticas, comportamentais e sociais do Brasil de então. No livro “TORQUAtália {GELÉIA geral}” obra reunida (Rocco, 2004) de Torquato Neto, organizado por Paulo Roberto Pires, encontramos detalhes riquíssimos do dia-a-dia do autor, e que serviu como pano de fundo na construção da literatura lá impresso. Com um talento inquestionável, com um estilo rebelde, inquieto e insaciável no tecer das palavras e com os sentimentos aflorados, Torquato Neto escreveu em vários jornais cariocas sobre os mais variados assuntos da cultura popular, entre os noticiários, manteve entre março a setembro de 1967 no Jornal dos Sports a coluna “Música Popular” – escreve sobre discos e movimentos relacionados à música. Falava de tudo um pouco. No jornal Correio da Manhã, Torquato escreve em junho de 1971 a coluna “Plug” - uma espécie de suplemento de cinema e cultura. Representava o som e imagem do cinema brasileiro. No jornal última Hora na coluna “Geléia Geral” Torquato escreve quase que diariamente de agosto de 1971 a março de 1972 - uma discreta revolução da imprensa da época. Torquato falou de tudo e escreveu para todas as classes da cultura reinante. Dava nome ao fogo. Levava as discussões a ferro e brasa. “TORQUAtália {GELÉIA geral}” reúne os escritos do Jornal dos Sports, Correio da Manhã e Última Hora.
            O ano de 1968 não termina bem para Torquato Neto. Em São Paulo, passa pela primeira das quatro internações a que vinha acontecer pelos excessos do álcool. Rompido com alguns companheiros tropicalista e deprimido, embarca para a Europa uma semana antes do AI 5. Fica sabendo da decretação do Ato Institucional na Holanda. (os companheiros que ficaram no país sofrem as truculências da ditadura). No ano seguinte já em Londres no seu “exílio”, a esposa Ana vai ao seu encontro.  Lá Alugam um apartamento e moram por alguns meses até se transferirem para Paris. Na viagem conhecem também Espanha e Portugal. Volta ao Brasil no inicio dos anos 1970 e sentindo-se alienado tanto pelo regime militar como pela ideologia de esquerda, as internações e o rompimento com diversas amizades, Torquato começa a se isolar. O refúgio foi o boteco e a maquina de escrever.
        Entre projetos novos e a depressão, Torquato empenhava-se na edição – única - da revista Navilouca. A revista seria uma espécie de resumo do movimento cultural alternativo da época. Em 1974 reunindo, Waly Salomão, Heraldo de Campos, Hélio Oiticica entre outros, com projeto de Luciano Figueiredo, Oscar Ramos e Ana Maria, a revista finalmente é publicada - em edição única conforme o planejado.
            Em depoimento-entrevista dado a Régis Bonvicino, Décio Pignatari disse que “Torquato era um criador-representante da nova sensibilidade dos não-especializados. Um poeta da palavra escrita que se converteu à palavra falada, não só à palavra falada idioletal brasileira, mas à palavra falada internacional. A palavra falada do Português do Brasil – e não o brasileirês, fosse piauiense, baiano, carioca ou paulista. Não era de folclorizar a língua... Era mais de ideologia do que de magia.”

                                                      (*)JOSSELMO BATISTA NERES é funcionário do Banco do Brasil
E-mail: josselmo@hotmail.com


Crônica/Artigo publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí – GELÉIA GERAL (II) – em 10/09/2013 na página 18 Galéria-Cultura (Jornal Impresso).

Pode também ser conferida na Edição Eletrônica endereço abaixo:
http://www.diariodopovo-pi.com.br/Jornal/Default.aspx

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