(*)JOSSELMO BATISTA NERES
Torquato defendeu com veemência as
convulsões políticas, comportamentais e sociais do Brasil de então. No livro “TORQUAtália {GELÉIA geral}” obra reunida (Rocco, 2004) de Torquato Neto, organizado por
Paulo Roberto Pires, encontramos detalhes riquíssimos do dia-a-dia do autor, e que
serviu como pano de fundo na construção da literatura lá impresso. Com um
talento inquestionável, com um estilo rebelde, inquieto e insaciável no tecer
das palavras e com os sentimentos aflorados, Torquato Neto escreveu em vários
jornais cariocas sobre os mais variados assuntos da cultura popular, entre os noticiários,
manteve entre março a setembro de 1967 no Jornal
dos Sports a coluna “Música Popular” – escreve sobre discos e movimentos
relacionados à música. Falava de tudo um pouco. No jornal Correio da Manhã, Torquato escreve em junho de 1971 a coluna “Plug” - uma
espécie de suplemento de cinema e cultura. Representava o som e imagem do
cinema brasileiro. No jornal última Hora
na coluna “Geléia Geral” Torquato escreve quase que diariamente de agosto de 1971 a março de 1972 - uma
discreta revolução da imprensa da época. Torquato falou de tudo e escreveu para
todas as classes da cultura reinante. Dava nome ao fogo. Levava as discussões a
ferro e brasa. “TORQUAtália {GELÉIA geral}” reúne os escritos do Jornal dos Sports, Correio da Manhã e Última Hora.
O ano de 1968 não termina bem para Torquato
Neto. Em São Paulo,
passa pela primeira das quatro internações a que vinha acontecer pelos excessos
do álcool. Rompido com alguns companheiros tropicalista e deprimido, embarca
para a Europa uma semana antes do AI 5. Fica sabendo da decretação do Ato
Institucional na Holanda. (os companheiros que ficaram no país sofrem as
truculências da ditadura). No ano seguinte já em Londres no seu “exílio”, a
esposa Ana vai ao seu encontro. Lá Alugam
um apartamento e moram por alguns meses até se transferirem para Paris. Na viagem
conhecem também Espanha e Portugal. Volta ao Brasil no inicio dos anos 1970 e
sentindo-se alienado tanto pelo regime militar como pela ideologia de esquerda,
as internações e o rompimento com diversas amizades, Torquato começa a se
isolar. O refúgio foi o boteco e a maquina de escrever.
Entre projetos novos e a depressão,
Torquato empenhava-se na edição – única - da revista Navilouca. A revista seria uma espécie de resumo do movimento
cultural alternativo da época. Em 1974 reunindo, Waly Salomão, Heraldo de
Campos, Hélio Oiticica entre outros, com projeto de Luciano Figueiredo, Oscar
Ramos e Ana Maria, a revista finalmente é publicada - em edição única conforme
o planejado.
Em depoimento-entrevista dado a
Régis Bonvicino, Décio Pignatari disse que “Torquato era um
criador-representante da nova sensibilidade dos não-especializados. Um poeta da
palavra escrita que se converteu à palavra falada, não só à palavra falada
idioletal brasileira, mas à palavra falada internacional. A palavra falada do
Português do Brasil – e não o brasileirês, fosse piauiense, baiano, carioca ou
paulista. Não era de folclorizar a língua... Era mais de ideologia do que de
magia.”
(*)JOSSELMO
BATISTA NERES é funcionário do Banco do Brasil
E-mail:
josselmo@hotmail.com
Crônica/Artigo publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí –
GELÉIA GERAL (II) – em 10/09/2013 na página 18 Galéria-Cultura (Jornal
Impresso).
Pode também ser conferida na Edição Eletrônica endereço abaixo:
http:// www.diariodopovo-pi.com.br/ Jornal/Default.aspx
Pode também ser conferida na Edição Eletrônica endereço abaixo:
http://
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