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segunda-feira, 7 de julho de 2014

Fervor emblemático


            Sem diálogo a última escolha é abandonar o mundo em que vivo e retornar para a realidade. Não saúdo a vida com pranto. Prefiro o silêncio ao falatório desajustado. Prefiro as palavras harmônicas, doces e suaves ao invés das que trazem o fervor emblemático, estas sim, ficam impregnadas na alma e é transbordante de compaixão. Quando o sentimento é para fora, externo, bate e volta, ou seja, não deixa abater-se com as palavras pejorativas cheias de sensibilidades e nem altera a forma transparente de encarar o viver, a pessoa tem no corpo uma proteção natural como se fosse um escudo para rebater as atrocidades. Entretanto, se o sentimento for para dentro o efeito das palavras é internalizado na alma de uma forma crua e violenta. Mesmo que queira controlar a programação do cérebro e bloquear a funcionalidade indesejada dificilmente vai conseguir e o resultado é o redemoinho de pensamentos nefasto. A esportiva não funciona. A emoção passa a ser a razão e a essa altura o que bateu no coração subiu ao juízo com um efeito enérgico e corrosivo.
            Quando por vezes algum dito é internalizado, os pensamentos ficam em reboliço à luz do dia. Já na calmaria da noite, sozinho, quieto ao canto, os miolos ficam em guerra e quando chega à hora de repousar que coloca a cabeça no travesseiro para cair no sono e moderar por um instante a impressionabilidade corrosiva que afronta as ideias e consegue dormir chega o sonho aflitivo e extremamente desagradável produzido pelo efeito da opressão das palavras. Os impulsos frenéticos voltam a reinar.
            Para esquecer os desvios da imaginação que vez por outra vêm de encontro, alguns se ocupa conversando com um amigo e/ou amiga, sentam-se em um restaurante ou em um barzinho para beber uma cerveja e trocar algumas palavras de consolação conforme a ambientação do momento, ao invés de ficar tentando escrever a sensibilidade do fervor emblemático preso na alma ao qual nem ela mesma entende e ainda vai correr o risco de alguém ler e dizer que o escrito é leviano. Não importa, é a expressão da própria vida. Para quem usa o papel e caneta para o ofício, não excluindo os que usam a nobreza da tecnologia, essa é a maneira de acalentar o ânimo. Preso na loucura em raras exceções é melhor distrair-se com a caneta misturando letras do que sair por ai jogando palavras ao vento. Cada um tem a sua forma particular de pensar e de agir. Pode não ajudar em nada, pode não ser inovador e nem acrescentar patavina no seio da vida com tais termo, todavia, vamos combinar uma coisa, caro leitor, te falo baixinho, essas palavras são um tratado para curar os desvios que existem no descontrole emocional e afagar o espaço vazio que estar além dos pensamentos, no entanto, é a forma de manter-se vivo e fora dos freelance dos momentos inoportunos que se desprendem da lucidez e mergulha na loucura.    
            Quando o sentimento é internalizado o uso de mascara para esconder-se da verdade empanada na real situação que beira o momento é bola fora da rede. Fingir também não funciona, é melhor ser igual a você mesmo. Não disfarce, não dissimule no rosto o que não sinta no coração, coloque para fora o sentimento traiçoeiro preso na alma.

            (*) JOSSELMO BATISTA NERES é funcionário do Banco do Brasil
E-mail: josselmo@hotmail.com

Crônica publicada no Jornal Diário do Povo do Piauí em 26/07/2014 na página 02 - Opinião (Jornal Impresso).

Pode também ser conferido na íntegra na Edição Eletrônica no endereço abaixo:

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