Desde quando
descobri os escritos de Clarice Lispector fiquei fascinado pelos conteúdos
carregados de pura alma. Há algum tempo li o livro A Hora da Estrela e no
momento estou viajando pelas páginas do livro Laços de Família. Encantei-me
com a narrativa da autora. Tem uma síntese perfeita, algo incomum e
inconfundível. Os escritos de Clarice têm uma forma impar e um tanto quanto sedutor,
faz o leitor deleitar com as suas narrativas. Aprisionei-me completamente nas
palavras, frases e ditos da autora. Identifiquei-me completamente, até parece
que quem escreveu foi eu.
A frase “sou tão misteriosa que não
me entendo”. Encaixa perfeitamente, caiu como uma luva. Por vezes é como se
estivesse vivendo em um grande mistério e em pura dúvida... Como posso ver nos
textos de Clarice aquilo que sou eu? Clarice escrevia o que era. Procuro nas
palavras às vezes um tanto quanto Clarice, não com o mesmo teor em genialidade que
brota em cada texto da autora, ela era uma verdadeira mestra na arte de
escrever. Não tenho esse dom. Quem mim dera ter sido presenteado com a
verdadeira magia plantada na alma. Apenas procuro alimentar a necessidade de
minha alma, a desvendar o mistério e a dúvida pressa em forma bruta. Assim como
Clarice: "Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer
coisa. Não altera em
nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as
coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."
Eu sou assim, penso assim, mim sinto assim. Clarice
Lispector disse em certa passagem "Eu não escrevo o que quero, escrevo o
que sou..." Palavras de pura alma. O coração esculpido em serenidade. Nos
escritos de mim vejo, um tanto quanto meio a meio, como forma de desabafo, de
protesto, de indignação, para suprir as necessidades da alma, para alimentar as
alegrias e sanar o instante vazio. No poema Motivo Clarice canta: “Eu canto
porque o instante existe / e a minha vida está completa/. Não sou alegre nem
sou triste: sou poeta”.
Clarice em inspiração profunda e
diante dos olhos de quem a ler, canta o momento, a vida por inteiro, a condição
humana. Tem em seus textos o uso constate de metáforas usadas como forma de
desabafo como faz um poeta aos quatros cantos ao vento na flor da pele exigindo
insistentemente a compreensão do leitor.
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